quinta-feira, 7 de março de 2013

Traços

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São fortuitas as mãos que me tocam, como se meu corpo fosse feito uma brasa que queima sem fim e some. As sensações de persistir não acompanham as trilhas loucas que guiam todos os caminhos. Há mãos, esparsas, por todos os lados, e nenhuma preenche. Nenhuma delas tem o poder aditivo de somar aos dedos algo mais que o calor da chama.
Onde estão os sopros cálidos?
Não há espaços para essa controvérsia de mãos e calores e vácuos e buscas no caminho. Sempre aquele gosto ácido ao final: gosto de fel na ponta da língua. Como se a mente não conseguisse compreender o que ocorre quando, na verdade, nada ocorre. Apenas a chama que queima. E fins.
São fortuitos os encontros, os beijos e os humores. Amores já não há. Uma constância em ser o si mesmo para si, de tal forma e tanto e quanto, que o encontro nunca é pleno, nunca é cheio, nunca é encontrar: um bater de cara com o espelho narcisista.
Algumas mãos, algumas vezes, balançam. E são raras. Tocam-se meio ao fogaréu que sobe pelos ares, como andorinhas que, de asas quebradas, tentam alçar voo. É um toque suave, sutil, súbito: um sussurro tátil.
E se vão.
Ao limbo, novamente, de vidas vazias. O vazio que deixa traços, diversos, incontínuos: nunca mais haverá fenda; nunca, grandes canyon.
Não mais amor.

[Criseida]