Boicotando-nos, a mente vai remexendo caixinhas e reorganizando lembranças já esquecidas, sensações já superadas, sentimentos já apagados do coração. Neste jogo das memórias, descubro-me em outro, num lugar já distante, num momento que já não pertence a mim.
Não é bom, pelo contrário. Noto que a lembrança só é remexida quando as sensações do de hoje permitiram que a mente fizesse a relação entre esses dois momentos. Nada é mero acaso.
Deixo as águas caírem, levando de meu corpo a sensação de incompetência por reviver dores. Sofro por saber que o maior boicote que sofri foi causado apenas por mim mesma. As águas continuam a cair.
Mas não há água salgada no meu rosto molhado; o que há, e fica insistentemente pingando, são gotas transparentes que eu não produzi, rapidamente evaporadas por um calor que não vem de minhas entranhas. Deixo que a água caia ou evapore copiosamente; a tristeza me torna inerte.
Então o toctoc insiste em me trazer à superfície e eu permito que o outro me veja no meio da escuridão do não saber-me. Ainda não havia me dado conta do que pensara, do porquê pensara, de em quem pensara.
A força das palavras é tão gigante e absoluta que eu, nesta semana, estou presa a essa sensação de ainda estar onde não mais pertenço, apenas porque o li..
E aí surgem as outras maravilhosas coincidências do mundo.
Tudo são pegadas na areia que essa marinheira insiste em apagar com as ondas do mar. Mas não há mar suficiente.
[CBO]