sexta-feira, 15 de junho de 2018

Das memórias


Boicotando-nos, a mente vai remexendo caixinhas e reorganizando lembranças já esquecidas, sensações já superadas, sentimentos já apagados do coração. Neste jogo das memórias, descubro-me em outro, num lugar já distante, num momento que já não pertence a mim.

Não é bom, pelo contrário. Noto que a lembrança só é remexida quando as sensações do de hoje permitiram que a mente fizesse a relação entre esses dois momentos. Nada é mero acaso. 

Deixo as águas caírem, levando de meu corpo a sensação de incompetência por reviver dores. Sofro por saber que o maior boicote que sofri foi causado apenas por mim mesma. As águas continuam a cair.

Mas não há água salgada no meu rosto molhado; o que há, e fica insistentemente pingando, são gotas transparentes que eu não produzi, rapidamente evaporadas por um calor que não vem de minhas entranhas. Deixo que a água caia ou evapore copiosamente; a  tristeza me torna inerte. 

Então o toctoc insiste em me trazer à superfície e eu permito que o outro me veja no meio da escuridão do não saber-me. Ainda não havia me dado conta do que pensara, do porquê pensara, de em quem pensara.

A força das palavras é tão gigante e absoluta que eu, nesta semana, estou presa a essa sensação de ainda estar onde não mais pertenço, apenas porque o li..

E aí surgem as outras maravilhosas coincidências do mundo.

Tudo são pegadas na areia que essa marinheira insiste em apagar com as ondas do mar. Mas não há mar suficiente.

[CBO]

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Do lado esquerdo do peito. Do lado direito do cérebro. Aqui voltei.


Não escrevo há muito tempo nesse espaço, mas também não escrevo há muito tempo na vida. Nem sequer meu trabalho de pesquisa tem tido essa dedicação da palavra escrita como eu deveria fazê-lo. Estou em falta comigo, em falta com essa essência minha de escrever como forma de libertação.

Quantas vezes não escrevi sobre isso por aqui?

E, no entanto, foram tantas as rasteiras da vida nesses últimos quase dois anos que, mesmo a escrita sendo libertadora, mesmo a materialização dos pensamentos sendo fuga para o alucinado  turbilhão de sensações, eu não conseguia escrever. 

Abri mão do blog. Abri mão das cartas de final de ano. Não estava feliz, porque a felicidade é também um impeditivo da escrita, estava afundada numa tristeza profunda, tão profunda que me deixou sem as forças necessárias para, enfim, escrever. 

Poderia dizer, então, que o que importa é que, afinal, agora estou aqui! Consegui romper a barreira do silêncio e fazer com que o de dentro-para-fora enfim se fizesse real. Mas, infelizmente, essa não é a realidade. Sim, estou feliz por conseguir traduzir em palavras esse de-dentro angustiante, mas sei que a angústia e a tristeza que me travaram pelos últimos dois anos não são tão bem educadas para saírem da minha casa assim, à francesa, tão rápidas e sorrateiras quanto entraram. É preciso dar  tempo ao tempo.

Estou aqui, feliz por  escrever, feliz por ter escrito, noutro dia, quatro longas páginas de reflexão acerca da minha vida (mas que não cabe tão exposta assim no mundo virtual). Estou tentando e, isso, nossa, me deixa muito feliz.

Como bom marinheiro que atravessa mares e marés inesperados...
com pegadas que desaparecem pela travessura das ondas que vêm e vão... 
com o amor dedicado às letras e à forma como elas nos conectam com o mundo...

Voltei,
:)