terça-feira, 28 de agosto de 2018

Luz, câmera, ORDEM.


Eu acho que não estou escritora, mas estou.
Na minha cabeça, as palavras estão indo de um lado para o outro, como crianças em um pula pula. Elas não param, alvoroçadas, felizes, saltintes. Mas, como boa mãe que não sou, preciso dar alimento às crias e elas não querem descer do pula pula e entrar na ordem do mundo. Eu encorporo a ordem do mundo, sou a voz que ecoa e roga ordem e progresso ao texto,  mesmo que seja, em geral, contrária à ideia de ordem e progresso.
Minhas crianças precisam descer desse brinquedo e ganhar vida no papel, porque o trabalho que exerço ainda se constrói na cultura letrada ocidental. Precisa ser escrito para ser lido. Precisa ser escrito para ser avaliado. Precisa de ordem, progresso e clareza textual.
Ironicamente, cabe aqui ressaltar, não consigo escrever uma linha do que a ordem e o progresso exigem, porque quero escrever poesia. Quero aconselhar amigos, quero planejar a vida, quero preparar viagens que nunca farei por lugares que nunca vivi.
São os inúmeros quereres que tiram a concentração necessária para a ordem e o progresso se constituírem. Agora começo a entender o Brasil.
[CBO]