Eu acho que não estou escritora,
mas estou.
Na minha cabeça, as palavras
estão indo de um lado para o outro, como crianças em um pula pula. Elas não
param, alvoroçadas, felizes, saltintes. Mas, como boa mãe que não sou, preciso
dar alimento às crias e elas não querem descer do pula pula e entrar na ordem
do mundo. Eu encorporo a ordem do mundo, sou a voz que ecoa e roga ordem e progresso
ao texto, mesmo que seja, em geral, contrária
à ideia de ordem e progresso.
Minhas crianças precisam descer
desse brinquedo e ganhar vida no papel, porque o trabalho que exerço ainda se
constrói na cultura letrada ocidental. Precisa ser escrito para ser lido.
Precisa ser escrito para ser avaliado. Precisa de ordem, progresso e clareza
textual.
Ironicamente, cabe aqui
ressaltar, não consigo escrever uma linha do que a ordem e o progresso exigem,
porque quero escrever poesia. Quero aconselhar amigos, quero planejar a vida,
quero preparar viagens que nunca farei por lugares que nunca vivi.
São os inúmeros quereres que
tiram a concentração necessária para a ordem e o progresso se constituírem.
Agora começo a entender o Brasil.
[CBO]