Há tempos não escrevo.
Não nesse corrido, sossego, palavras trás palavra, numa escrita que flui, feito água de rio. Tenho andado com meus atropelos.
Ultimamente, tudo em mim é poesia, o que não significa que soe bonito, bom ou profético. São apenas palavras que se encaixam em uma forma que não é minha natural, mas que encontram em si o encaixe perfeito e, assim, fluem. Não como água de rio, mas feito cachoeira brava, que não dá escolha: só há o escolho pela frente.
Tenho tido minhas fluências. Coisas assim, da vida, do dia-a-dia, me mudando tanto, tão drasticamente, que me inventei no gosto de sofrer reminiscências... Uma luzinha vadia, quase apagando dentro de mim. Uma luz inútil que tenta sustentar um sorriso molhado pelas dores do além.
Dores de uma natureza tão ímpar, que não há causa, nem culpado.
Uma sensação de que, neste mundo, estou eu perdida. Não, não sou daqui. Não pertenço a nada que há por aqui. Aqui, eu não sei me ser, me perco. Vira-e-mexe me perco. Quem sou eu então?
Não, não são apenas palavras. É uma mão pesada que me aperta aqui dentro, de tal forma, e tanto, que mal consigo respirar. A dor se espalha tão rapidamente, feito um sopro que cobre meu corpo. A dor ácida do não saber.
Assim, seguem meus dias.
Há tanto, tanto para comemorar. Tantas coisas a celebrar. E eu curtindo uma dor absolutamente intensa.
Há dias, vocês sabem, vivo de poesia.
A poesia e sua falta de concretude me perfazem, me tornando esse poço de não-sei-o-que-definir.
Não há palavras: por isso a poesia. Pois, assim, escrevendo feito um texto, é preciso que eu me expresse inteiramente... mas eu não sei me ser mais inteiramente.
Sou pedaços.
Fragmentos.
Um eu todo retalhado, peça a peça no quebra-cabeças da vida.
Peço perdão pelas palavras truncadas, pelo respiro difícil e pela letra agarrunchada. É meu modo de ser, assim, aos 26 anos.
Criseida.
terça-feira, 30 de julho de 2013
domingo, 28 de julho de 2013
26
o aumentativo de perda
- perdão -
é oriundo do coração
que, paradoxalmente,
emprega o diminutivo de caro
: carinho.
-
Moreno Pessoa
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
Fora, não se dão conta os desatentos.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
-
Affonso Romano de Sant'Anna
domingo, 21 de julho de 2013
Querência
Quero-te até o amor me pôr de cama
Ou de cama o amor cair doente.
Quero-te por isso que me come vivo
— nesse coma que não entendo do porque e do como.
Quero-te no decoro ou na indecência desse querer.
Se não puder, não me queira, mas amor me tenha
: não me cure de você.
-
Moreno Pessoa
sábado, 20 de julho de 2013
Perguntas para uma manhã de sábado
...
se a cultura popular é a cultura "do povo", quem é o povo? São todos: o pobre, as "classes subalternas", como costumava chamá-las o intelectual marxista Antonio Gramsci? São os analfabetos ou os incultos? Não podemos presumir que as divisões econômicas, políticas e culturais em uma determinada sociedade necessariamente coincidam. E o que é educação? Apenas o treinamento transmitido em algumas instituições oficiais como escolas ou universidades? As pessoas comuns são ignorantes ou simplesmente têm uma educação diferente, uma cultura diferente das elites?
Peter Burke.
se a cultura popular é a cultura "do povo", quem é o povo? São todos: o pobre, as "classes subalternas", como costumava chamá-las o intelectual marxista Antonio Gramsci? São os analfabetos ou os incultos? Não podemos presumir que as divisões econômicas, políticas e culturais em uma determinada sociedade necessariamente coincidam. E o que é educação? Apenas o treinamento transmitido em algumas instituições oficiais como escolas ou universidades? As pessoas comuns são ignorantes ou simplesmente têm uma educação diferente, uma cultura diferente das elites?
Peter Burke.
quarta-feira, 17 de julho de 2013
.. .
Eu acabei me apaixonando pelas saudades,
foi o jeito que encontrei pra aguentar a distância.
Eu acabei me apaixonando pelo vazio
pra noite ser pra sempre ainda que silenciosa.
Me apaixonei pela ausência
num jeito de guardar teu lugar
e não deixar nem tempo nem tristeza
fazê-la desaparecer no resto das coisas.
Me apaixonei por não saber
porque o que eu vi e o que eu vou ver de você ficou longe demais...
Me apaixonei pela distância,
por ela assim do que jeito que é
pra que com o tempo ela nao cresça dentro de mim.
Me apaixonei pelo desforme
que agora quem eu amo virou borrão (maldita memória!)
- E que a forma perfeita fique apenas no silêncio das fotos! -
Me apaixonei pelo silêncio
pra que teu grito, que vem a cada inverno, seja eterno o bastante pra que o resto do ano eu passe serena.
Me apaixonei pelas lembranças, pelo eco, pelos borrões, pelas ausências, pelo tempo, pelas saudades.
Pois se eu nao gostassa das saudades,
rapaz, eu voltava!
Ana Larousse Paris. 2005
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Soneto de julho
É muito tarde para não te amar.
Tudo o que ouço é o sopro do teu nome.
O que sinto é teu corpo, que consome
— presente, ausente — o meu corpo. Luar
em que me abraso, morro: teu olhar
ofuscando memórias, onde some
um mundo, e outro se ergue. Sede, fome
e esperança. Ah, para não te amar
é tão tarde que tudo é já distância,
que só respiro este luar que me arde,
este sopro sem praias do teu nome,
esta pedra em que pulsa e medra a ânsia
e esta aura, enfim, em que me envolve (é tarde!)
o que és — presente, ausente — e me consome.
-
Ruy Espinheira Filho
segunda-feira, 8 de julho de 2013
Mesmo que seja eu
Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão meu bem
Quando acordou estava sem ninguém
Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
Que no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
Da solidão
Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto prá secar seu pranto
Aumenta o rádio me dê a mão
Filosofia é poesia que dizia a minha vó
Antes mal acompanhada do que só
Você precisa de um homem pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu
Um homem prá chamar de seu
NEY MATOGROSSO.
Depois que eu me for
“Quando eu morrer não chores por mim
Do que hás de ouvir triste sino a dobrar
Dizendo ao mundo que eu fugi enfim
Do mundo vil para com os vermes morar.
E nem relembres, se estes versos leres,
A mão que os escreveu, pois eu te amo tanto
Que prefiro ver de mim te esqueceres
Do que o lembrar-me te levar ao pranto.
Se leres estas linhas, eu proclamo,
Quando eu, talvez, ao pó tenha voltado,
Nem tentes relembrar como eu me chamo:
Que fique o Amor, como a vida, acabado.
Para que o sábio, olhando a tua dor,
Do amor não ria, depois que eu me for.”
(Willian Shakespeare)
sexta-feira, 5 de julho de 2013
Café da Manhã
Sou tão vazio,
que me preencho,
com os retalhos de nada...
De modo que,
a poesia,
que amo,
sobreviva em mim.
5-7-13, 07h53
que me preencho,
com os retalhos de nada...
De modo que,
a poesia,
que amo,
sobreviva em mim.
5-7-13, 07h53
Novidades!
Há tantas novas.
Enfim o mundo se renova.
Enfim, por fim, os resultados.
Algo deu certo.
Um caminho, incerto, se abriu.
Violentamente,
De cabeça,
me jogo na jornada!
E eis-me aqui.
Criseida vencendo uma peleia.
Mais uma.
Surpreendentemente.
Feliz.
Vencendo, aos poucos.
Com toda a força que pode vir
de um só lugar
chamado
AMOR.
(Criseida por C.B.O.)
Enfim o mundo se renova.
Enfim, por fim, os resultados.
Algo deu certo.
Um caminho, incerto, se abriu.
Violentamente,
De cabeça,
me jogo na jornada!
E eis-me aqui.
Criseida vencendo uma peleia.
Mais uma.
Surpreendentemente.
Feliz.
Vencendo, aos poucos.
Com toda a força que pode vir
de um só lugar
chamado
AMOR.
(Criseida por C.B.O.)
Dois amores e um Rio
Sem que pudesse adivinhar a causa, começou a sentir no coração uma angústia profunda. Por que seria que o aspecto daquela manhã brumosa era tão desolador? De onde vinham esses soluços que lhe subiam à garganta? Por que recordava as tristezas de uma infância penosa e de uma adolescência de solidão e trabalho? Na véspera, esquecera-se de que era órfã, de que não tinha mais ninguém no mundo senão seu esposo. Por que sentira, de súbito, tanta solidão, tanto temor do futuro? Não bastaria Ramesh para protegê-la? Por que de repente sentira-se esmagada pela vastidão do universo e pela sua própria insignificância dentro deste?
TAGORE.
terça-feira, 2 de julho de 2013
MALDIÇÃO
Nunca é simples
Nunca é ponto no ponto
Vírgula e travessão.
Parece que o martelo que me molda
Vai tirando lascas de mim assim:
À flor da pele.
E dói.
Poderia colocar a culpa no
Inferno,
Astral;
Na chegada do
Inverno,
Temporal.
Mas sou eu .
É meu fazer.
Um mundo me espancando contra mim mesma.
Caindo, filete a filete,
As sobras que me apodrecem,
E crescendo outras.
Sempre é duro.
Sempre fere.
Sempre um coração todo pequeno dentro do peito
E um respiro dificultado
Pela pressão imprecisa
De uma cabeça que lateja.
Poderia ser Verão.
Eu poderia estar Nua.
Mas estou me desfazendo:
Carne e Osso.
Pele descamada.
Caldo grosso e salgado que desce
E se encontra com meus descaminhos.
Sempre.
Frio, Angústia,
Música triste na vitrola.
Nunca foi fácil.
E nunca será.
Mas o prenúncio da Teoria Waldorf,
Conforme me amaldiçoaram,
Ressoa em mim.
(cbo)
20/6/2013
July
Julho,
Mês de novidades intensas,
da completa gestação.
Julho,
Mês que me inspira,
me castiga,
me alucina.
Tudo acontece em julho:
Inclusive intermináveis e belos 31 dias.
(CBO)
"Então fiquei com você pra sempre abraçada
Até acabar a madrugada e amanhecer em julho ..."
http://www.youtube.com/watch?v=EIzpq5aOajY
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