terça-feira, 30 de julho de 2013

Aos 26...

Há tempos não escrevo.
Não nesse corrido, sossego, palavras trás palavra, numa escrita que flui, feito água de rio. Tenho andado com meus atropelos.
Ultimamente, tudo em mim é poesia, o que não significa que soe bonito, bom ou profético. São apenas palavras que se encaixam em uma forma que não é minha natural, mas que encontram em si o encaixe perfeito e, assim, fluem. Não como água de rio, mas feito cachoeira brava, que não dá escolha: só há o escolho pela frente.
Tenho tido minhas fluências. Coisas assim, da vida, do dia-a-dia, me mudando tanto, tão drasticamente, que me inventei no gosto de sofrer reminiscências... Uma luzinha vadia, quase apagando dentro de mim. Uma luz inútil que tenta sustentar um sorriso molhado pelas dores do além.
Dores de uma natureza tão ímpar, que não há causa, nem culpado.
Uma sensação de que, neste mundo, estou eu perdida. Não, não sou daqui. Não pertenço a nada que há por aqui. Aqui, eu não sei me ser, me perco. Vira-e-mexe me perco. Quem sou eu então?
Não, não são apenas palavras. É uma mão pesada que me aperta aqui dentro, de tal forma, e tanto, que mal consigo respirar. A dor se espalha tão rapidamente, feito um sopro que cobre meu corpo. A dor ácida do não saber.
Assim, seguem meus dias.
Há tanto, tanto para comemorar. Tantas coisas a celebrar. E eu curtindo uma dor absolutamente intensa.
Há dias, vocês sabem, vivo de poesia.
A poesia e sua falta de concretude me perfazem, me tornando esse poço de não-sei-o-que-definir.
Não há palavras: por isso a poesia. Pois, assim, escrevendo feito um texto, é preciso que eu me expresse inteiramente... mas eu não sei me ser mais inteiramente.
Sou pedaços.
Fragmentos.
Um eu todo retalhado, peça a peça no quebra-cabeças da vida.
Peço perdão pelas palavras truncadas, pelo respiro difícil e pela letra agarrunchada. É meu modo de ser, assim, aos 26 anos.

Criseida.

domingo, 28 de julho de 2013

26


o aumentativo de perda
- perdão -
é oriundo do coração
que, paradoxalmente,
emprega o diminutivo de caro
: carinho.
-

Moreno Pessoa
“é difícil defender só com palavras a vida”, como disse João Cabral de Mello Neto...

quinta-feira, 25 de julho de 2013



Às vezes, pequenos grandes terremotos

ocorrem do lado esquerdo do meu peito.

Fora, não se dão conta os desatentos.

Entre a aorta e a omoplata rolam

alquebrados sentimentos.

Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
-

Affonso Romano de Sant'Anna

domingo, 21 de julho de 2013

Querência






Quero-te até o amor me pôr de cama

Ou de cama o amor cair doente.

Quero-te por isso que me come vivo

— nesse coma que não entendo do porque e do como.

Quero-te no decoro ou na indecência desse querer.
Se não puder, não me queira, mas amor me tenha
: não me cure de você.

-

Moreno Pessoa

sábado, 20 de julho de 2013

Perguntas para uma manhã de sábado

...
se a cultura popular é a cultura "do povo", quem é o povo? São todos: o pobre, as "classes subalternas", como costumava chamá-las o intelectual marxista Antonio Gramsci? São os analfabetos ou os incultos? Não podemos presumir que as divisões econômicas, políticas e culturais em uma determinada sociedade necessariamente coincidam. E o que é educação? Apenas o treinamento transmitido em algumas instituições oficiais como escolas ou universidades? As pessoas comuns são ignorantes ou simplesmente têm uma educação diferente, uma cultura diferente das elites?


Peter Burke.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

.. .



Eu acabei me apaixonando pelas saudades,

foi o jeito que encontrei pra aguentar a distância.

Eu acabei me apaixonando pelo vazio

pra noite ser pra sempre ainda que silenciosa.

Me apaixonei pela ausência

num jeito de guardar teu lugar
e não deixar nem tempo nem tristeza
fazê-la desaparecer no resto das coisas.
Me apaixonei por não saber
porque o que eu vi e o que eu vou ver de você ficou longe demais...
Me apaixonei pela distância,
por ela assim do que jeito que é
pra que com o tempo ela nao cresça dentro de mim.
Me apaixonei pelo desforme
que agora quem eu amo virou borrão (maldita memória!)
- E que a forma perfeita fique apenas no silêncio das fotos! -
Me apaixonei pelo silêncio
pra que teu grito, que vem a cada inverno, seja eterno o bastante pra que o resto do ano eu passe serena.

Me apaixonei pelas lembranças, pelo eco, pelos borrões, pelas ausências, pelo tempo, pelas saudades.
Pois se eu nao gostassa das saudades,
rapaz, eu voltava!

Ana Larousse Paris. 2005

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Soneto de julho









É muito tarde para não te amar.

Tudo o que ouço é o sopro do teu nome.

O que sinto é teu corpo, que consome

— presente, ausente — o meu corpo. Luar

em que me abraso, morro: teu olhar
ofuscando memórias, onde some
um mundo, e outro se ergue. Sede, fome
e esperança. Ah, para não te amar

é tão tarde que tudo é já distância,
que só respiro este luar que me arde,
este sopro sem praias do teu nome,

esta pedra em que pulsa e medra a ânsia
e esta aura, enfim, em que me envolve (é tarde!)
o que és — presente, ausente — e me consome.
-

Ruy Espinheira Filho

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Mesmo que seja eu






Sei que você fez os seus castelos

E sonhou ser salva do dragão

Desilusão meu bem

Quando acordou estava sem ninguém

Sozinha no silêncio do seu quarto

Procura a espada do seu salvador

Que no sonho se desespera

Jamais vai poder livrar você da fera

Da solidão

Com a força do meu canto

Esquento o seu quarto prá secar seu pranto

Aumenta o rádio me dê a mão

Filosofia é poesia que dizia a minha vó

Antes mal acompanhada do que só

Você precisa de um homem pra chamar de seu

Mesmo que esse homem seja eu

Um homem prá chamar de seu






NEY MATOGROSSO.

Depois que eu me for



“Quando eu morrer não chores por mim


Do que hás de ouvir triste sino a dobrar


Dizendo ao mundo que eu fugi enfim


Do mundo vil para com os vermes morar.


E nem relembres, se estes versos leres,


A mão que os escreveu, pois eu te amo tanto


Que prefiro ver de mim te esqueceres


Do que o lembrar-me te levar ao pranto.


Se leres estas linhas, eu proclamo,


Quando eu, talvez, ao pó tenha voltado,


Nem tentes relembrar como eu me chamo:


Que fique o Amor, como a vida, acabado.


Para que o sábio, olhando a tua dor,


Do amor não ria, depois que eu me for.”


(Willian Shakespeare)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Café da Manhã

Sou tão vazio,
que me preencho,
com os retalhos de nada...
De modo que,
a poesia,
que amo,
sobreviva em mim.

5-7-13, 07h53

Novidades!

Há tantas novas.
Enfim o mundo se renova.
Enfim, por fim, os resultados.
Algo deu certo.
Um caminho, incerto, se abriu.

Violentamente,
De cabeça,
me jogo na jornada!

E eis-me aqui.
Criseida vencendo uma peleia.
Mais uma.
Surpreendentemente.
Feliz.
Vencendo, aos poucos.

Com toda a força que pode vir
de um só lugar
chamado
AMOR.


(Criseida por C.B.O.)

Dois amores e um Rio



Sem que pudesse adivinhar a causa, começou a sentir no coração uma angústia profunda. Por que seria que o aspecto daquela manhã brumosa era tão desolador? De onde vinham esses soluços que lhe subiam à garganta? Por que recordava as tristezas de uma infância penosa e de uma adolescência de solidão e trabalho? Na véspera, esquecera-se de que era órfã, de que não tinha mais ninguém no mundo senão seu esposo. Por que sentira, de súbito, tanta solidão, tanto temor do futuro? Não bastaria Ramesh para protegê-la? Por que de repente sentira-se esmagada pela vastidão do universo e pela sua própria insignificância dentro deste?




TAGORE.

terça-feira, 2 de julho de 2013

MALDIÇÃO









Nunca é simples

Nunca é ponto no ponto

Vírgula e travessão.

Parece que o martelo que me molda

Vai tirando lascas de mim assim:

À flor da pele.

E dói.

Poderia colocar a culpa no

Inferno,
Astral;
Na chegada do
Inverno,
Temporal.
Mas sou eu .
É meu fazer.
Um mundo me espancando contra mim mesma.
Caindo, filete a filete,
As sobras que me apodrecem,
E crescendo outras.
Sempre é duro.
Sempre fere.
Sempre um coração todo pequeno dentro do peito
E um respiro dificultado
Pela pressão imprecisa
De uma cabeça que lateja.
Poderia ser Verão.
Eu poderia estar Nua.
Mas estou me desfazendo:
Carne e Osso.
Pele descamada.
Caldo grosso e salgado que desce
E se encontra com meus descaminhos.
Sempre.
Frio, Angústia,
Música triste na vitrola.
Nunca foi fácil.
E nunca será.
Mas o prenúncio da Teoria Waldorf,
Conforme me amaldiçoaram,
Ressoa em mim.
(cbo)

20/6/2013

July



Julho,

Mês de novidades intensas,

da completa gestação.

Julho,

Mês que me inspira,

me castiga,

me alucina.
Tudo acontece em julho:
Inclusive intermináveis e belos 31 dias.
(CBO)

"Então fiquei com você pra sempre abraçada
Até acabar a madrugada e amanhecer em julho ..."

http://www.youtube.com/watch?v=EIzpq5aOajY