quinta-feira, 29 de maio de 2014

A descoberta de um muro no mundo.

Meu coração é um pacote de biscoitos que é esmigalhado por suas mãos. Me sinto tão vazia deste mundo de pessoas vazias e você, meu único pote de sustento, é ao mesmo tempo minha vida e minha maior loucura de morte. Estou plena de você até às tampas. Já tentei livrar-me por vezes deste sufoco, mas é o vai e desce da roda gigante interpelando nosso caminho. Até sinto seu cheiro tosco de rato velho e estragado: feito livro lido e relido várias vezes e deixado ao canto e apodrecido e novamente lido e novamente amado.
Não sei o quanto amo você, mas sei que amo.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Desastres...

Prometi a mim mesma que a próxima postagem seria sobre minhas atuais mudanças. Mas quem é que diz que temos qualquer poder sobre a escrita?
Estou eu, meio ao caos, mas só penso em você hoje. Na verdade, não só penso em você, mas penso em  tantas coisas ao mesmo tempo que pensar em você foi um modo consolador de perceber que pensar em tantas coisas ao mesmo tempo é um modo de fuga.
Viajamos. Cada um para o lado de si. Perdemos, no caminho, a magia de termos nos encontrado. Agora, no momento em que escrevo, somos um eu e um você como se nunca houvesse passado entre a gente a ideia do nós.
São os rumos de uma viagem biruta chamada vida.

Quem sabe te reivento nos poderes que a  escrita me proporciona. Assim, tenho você perto de mim um pouco mais.

[cbo]

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Vícios

Comprei um vinho pensando em você. Arrumei minha casa, pintei minhas unhas, me colori: pensando em você. Pensando em você, eu refiz uma lista de coisas que eu preciso mudar em mim para ser um melhor a cada dia. Pensando em você, esperei, suspirante, enquanto pensava seu cheiro. Pensando em você, escrevi diversos textos, poemas, frases soltas, li livros novos, assisti filmes, informei-me sobre novas artes, remontei minha estante de documentários favoritos. Pensando em você, escrevi um post-it que está colado até hoje na minha televisão (e que, por sinal, acabou de aparecer, já que uma folha de papel o encobre). Mesmo assim, as coisas estão aqui em casa, pensando em você.
Pensando em você, deixei de fazer sexo. Deixei de deixar o corpo de um outro pesar sobre o meu, já que, pensando em você, doei minh'alma. Pensando em você beijei outros lábios. Pensando em você, sozinha, em meu quarto, inventei mil prazeres. Construí diversas estórias, pensando em você.

Passei tanto tempo pensando em você, que no de repente se foi, que no de repente me deixou, que no de repente não é mais, que agora estou perdida numa mania ingrata: pensar em você.


[cbo]

domingo, 4 de maio de 2014

Botões

.
Devo usar roupas com muitos botões, de fato. Digo isso porque sempre estou deste lado, falando com meus botões.
Ontem, nesse movimento de paciência (falar com botões é um movimento externo da construção da paciência!) me deparei com outro diálogo que deveria ser, mas não é.
E então, nessa conversa doida com pé e cabeça bem definidos, dei-me conta de que, na realidade, a resposta para as minhas várias perguntas se encontra no fato de que a maturidade em determinados assuntos não garante a mesma capacidade cognitiva em outros.
Juro que demorei muito para compreender que seria isso.
Meus botões, muitos botões, me fizeram ver que esta falta de compreensão deriva, talvez, dessa necessidade de que o pleno e o belo sejam, de fato, constituídos em uma unidade. E não o são, não é?
Ainda não sei o que houve,  x + y, naquele momento, nesse momento, até hoje.
E não quero adivinhá-lo tampouco. Prefiro saber quando (e se) quiser me dizer. Fora isso, não me interessam adivinhações e pressupostos.

(...)

[cbo]

sábado, 3 de maio de 2014

marinheiro.besteiras.com.



Namore com alguém que saiba a cantada da Nuvem.
Alguém que conte as piores piadas do mundo.
Aquele alguém que não se importa com o julgamento alheio.
Alguém que saiba cantar a música da Samara.
Alguém que divirta seus dias.

Namore com alguém que tenha olhos pequenos
uma alma grande
fale as maiores asneiras
não pense no futuro
não cria abobrinhas
que se torna mito
Que te faça rir.

Namore com alguém que você ache um absurdo
com alguém que não possa existir
alguém que te deixe sempre no liame entre a realidade e a ficção
alguém que navegue
e não tenha medo de explorar o novo
o alguém que lhe dá sustos
e faz doer sua barriga,
não seu coração.

Namore com alguém que esperou para te encontrar,
Assim como você
que dai, sentada,
suspirava dias por sua volta.

Sim, se-abra.

[c.b.o.]

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Suspiros poéticos de um diálogo que não mais há.

Meu querido,

Há dias venho percebendo como são constantes os momentos em que nos metemos nessa algazarra chamada vida real. Deve haver, penso com meus botões, algum outro modo de vida, longe deste, chamado mundo verdadeiro. Não, não o "mundo da verdade" absoluta e única. Este, ao certo, não há. 
Chamo de algazarra ao que venho pensando da vida real pois, (engraçado como a vida é irônica, não é mesmo?) tenho notado que as coisas andam turbulentas para você também.
Para mim andam assim, de fato. E o fato de voltar ao meu ofício torna tudo bem menos medíocre: a todo tempo é preciso que eu pense. É preciso que eu reflita. Me pedem, me pagam para tal atividade.
Como se não se bastasse este labor, outros, de fora, se aproximam de mim para pedir que eu fale. Não, não querem que minha voz ressaiba os poemas dos grandes mestres ou as máximas das grandes obras. Quem me dera assim o fosse. Estes, que chegam de perto ou longe, pedem que eu transpasse ao mundo tresloucado, chamado real, aquela enorme quantidade de pensamentos que eu venho acumulando em meu existir.
Crês nisso?
Mas estes seres não dialogam, querem o que eu penso para saber, no simples fato de que querem saber, ou então para rechaçar minhas ideias com argumentos tão mal amarrados que me dá ganas de enforcar as falas de alguém por vir até mim com tamanha ingenuidade discursiva.
Pois então. Deste lado, assim segue meu rio.
Do lado de lá, o que pressuponho ser o teu lado, meu caro, há um rio com pequenas ladeiras maçantes. Tenho lido. Espero que possa se desligar deste aparelho chamado fala e encontre no modo interno uma maneira de dizer menos o que os pensamentos nos cutucam. Porque, simplesmente, a gente diz mais ou menos o que esperam que a gente diga. E também o que nós mesmos esperamos de nós. 
Melhor seja investir em poemas ou frases bregas.
Nada de Kafka mais, ou então Shakespeare ou Baudelaire. O negócio, de então, é proclamar um poema de amor com estrofes tolas. Nada de refletir sobre Machado. Se for ouvir Chico, prefira suas novas baladas, são muito menos pensamento e mais emoção.
No fim, acho que este seja nosso melhor caminho.
E um até, breve.
Criseida.