quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Segredos de liquidificador

"Me abraça e me faz calor...

Um ser humano é o meu amor
de músculos
de carne
e osso
pele
e cor."


Hei, o marinheiro voltou!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O que eu ia dizer.

Eu havia escrito assim:

"Hoje eu tomei um danone estragado.
Mas os dois socos no estômago só vieram alguns momentos mais tarde."

Sim, não está  tranquilo no de dentro hoje.

Por isso, recorri a duas grandes amigas para saber se, de fato, eu sou o tão pouco ou faço tão errado quanto o que houvera revirado meu estômago.
Então, surpresa, sinto a suave mão da amizade amenizar as dores do dia.

A humanidade é suave, sutil, sem atropelos.
Por isso, acredito, seja tão difícil de se notar.

...


[cbo]

O Haver



"Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo

- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...


Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens."

Vinícius de Moraes

Aprendizagem..

"Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim, nem que eu faça a falta que elas me fazem. O importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível, e que esse momento será inesquecível."

(Fernando Pessoa)



domingo, 16 de fevereiro de 2014

Vida - Marinheiragens.

.
A mania de se entupir de música durante o dia todo nunca saiu de mim! Desse modo, os álbuns são colocados seguidamente, só com o intervalo de tempo em que eu não percebo que algo parou de acontecer: a música parou de tocar.
São todos os ritmos, melodias, com letra, sem letra, em português, em inglês, em espanhol, em alemão, em francês.... em turco!
Se a música mexe lá dentro, tá na lista!

Mas acontece que hoje, pela manhã, ouvi uma música do álbum "Uma palavra", do Chico, chamada "Vida". Só, simplesmente, nada menos: VIDA!
E eu nunca tinha prestado tanta atenção na letra. De repente, ouvindo, depois lendo, veio uma sensação tão grande de encontro. De auto-encontro dentro a canção.

Ela combina comigo, com o que eu sou, com a "minha" vida, com este blog e com toda a questão que envolve ser marinheiro.

Por esse encontro tão mágico nesta manhã de domingo, segue a letra mais do que linda, posto que ela não é necessariamente linda, mas a letra que toca, retoca e oferece um ar de alívio!

[criseida]

VIDA

Vida, minha vida,
Olha o que é que eu fiz:
Deixei a fatia mais doce da vida
na mesa dos homens
de vida vazia.
Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz.

Vida, minha vida,

Olha o que é que eu fiz:
Verti minha vida
Nos cantos, na pia,
Na casa dos homens
De vida vadia.
Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz.

Luz, quero luz,

Sei que além das cortinas 
são palcos azuis e infinitas cortinas
com palcos atrás!
Arranca, vida!
Estufa, veia!
E pulsa, pulsa, pulsa, pulsa, pulsa mais!
Mais, quero mais, 
Nem que todos os barcos recolham ao cais
Que os faróis da costeira me lancem sinais.

Arranca, vida, 

Estufa, vela,
Me leva, leva longe, 
Longe, leva mais!

Vida, minha vida,

Olha o que é que eu fiz:
Toquei na ferida dos nervos,
nos fios,
nos olhos dos homens,
de olhos sombrios.
Mas, vida, ali, eu sei que fui feliz!

Chico Buarque de Hollanda.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O Marinheiro

Hoje eu o busquei.
Nas fotos antigas, pelos mares da vida.

De todo modo, nos conhecemos há vidas!

Há alguma maneira de definir a confusão de águas e sais e areias que constróem nossos caminhos tão próximos, tão intensos?

Preciso voltar a vê-lo, Marinheiro. Desembarque logo nas águas dessa poetisa ruim.

[C.B.O.]

Eu troco

(Vi esse jogo de imagens em algum canto... e resolvi reproduzir, adaptando)

Eu troco um arroz queimado, por um sorvete gelado
Eu troco um parque de diversão, por fazer cócegas no meu irmão
Eu troco um passeio de balão, por uma porção de bexigas e amigos
Eu troco a tristeza cinza, pela poesia das flores amarelas
Eu troco a dor de cabeça, pela dor nas bochechas
Eu troco a vontade de fugir, pela gana de viver
Eu troco a negação, pelas borboletas no estômago
Eu troco o vazio, pelo brilho de olhos amigos
Eu troco uma bela noite de sono, por uma mágica noite de confidências
Eu troco a menina que eu fui, pela mulher que almejo ser
Eu troco essa brincadeira, por uma continuação... sua!


:)

Criseida