terça-feira, 29 de março de 2016

aos nãos que me dás.

.

E no viço dos queixumes, a impaciência do não.
Diante dessa palavra
pequena palavra
vil palavra
não.

As dores que funde,
os laços que rompe,
as lágrimas que gera,
o desfruto do que não nasceu.

E o não atrelado a  ti,
ao teu pleno não
ao teu constante negar
às profundezas daquilo que somos
e do que não somos.

De tanto amor,
que funde,
no fundo, 
nos fins,
facilmente sei: fica o não como gosto final.

                        E a negativa
nada
                        mais
é
                         do  que
                       
um
                          medo
oco.


Contemplo-te no gozo
no exato momento de se dar
na entrega mais profunda
no rompimento das superfícies

..........................................................................................Ei-lo diante do sim impossível.
..................................................................................Dos sibildos incandescentes
.........................................................................Do não destituído do poder.


Apenas
o sim
da volúpia
da carne
do ventre 
es-can-ca-ra-do-a-mim.

Beijo-te e te faço meu
Dona do sim e do não
Plena de poderes
tão reais
tão bárbaros
tão efêmeros.

Amanhece
e o sol
transparente
transpassa
acorda
lembra
recolhe 
todo o sim
e
todo o não faz morada.


[cbo]

Coincidências-cobras


.


Desço
des-
      -avisada
e

deparo-me___________

_de
_re
_pen
_te

diante: de ti.


(cbo)

domingo, 6 de março de 2016

Adéle, um copo d'água e um coração machucado

Busco na escrita orientação. A base do não saber-me. Tentei colocar num projeto de doutorado as dores que inflamam meu coração hoje, mas não soou muito bem. Descompassada, a escrita vacila. Não é fácil ser leonina e rancorosa. Meu coração dói sem nome. Não  compreendo essa angustia que mora em mim e sinto que estou mais solitária do que nunca. Sinto que nada e nem ninguém me compreende. Deve ser por isso que ninguém quis atender meu telefonema hoje. Justo hoje. E a escrita, com o papel impossível de me decifrar. No copo, a água transparente que não permite que eu me purifique. Dentro de mim: neblina. Dói andar sem ver. Faz um eco dentro da gente que não é tão bom assim. Qual pecado cometemos para sofrer por amor? Nalgum lugar, uns 90km daqui, mora outro coração magoado por minha alma magoada. E eu não encontro consolo para nenhum de nós. Não encontro respostas. Dentro de mim, a neblina que persiste. Quero o que não tenho. Espero o que nunca vem. Espero que ele me leia mesmo sabendo que ele nunca teria tal audácia. Provo assim que sempre quero o que não tenho. Quero os romances de surpreendentemente. Quero ser surpreendida com uma lembrança sobre mim. Sobre nós. Quero que ele não esqueça. Quero que ele lembre que podemos e devemos ser um pouco de nós dois. Quero que doa nele aquilo que dói em mim do amor vivido na  distância. Quero ele fora da zona de conforto. No fim de tudo, quero que ele sinta desesperadamente, como eu sinto, a falta da minha presença no cotidiano.  De resto, lucro. Por enquanto, essa neblina resistente. E a Adéle que não cansa a voz nunca. E entra rasgando a alma da gente quando só há água para apagar o sufoco. E não apaga.


cbo