quinta-feira, 21 de maio de 2015

21 de maio - dia do letrólogo

Dia do profissional de letras. A melhor forma de nos homenagear é, antes de tudo, o respeito. A título de ilustração, deixo as letras de alguém que sempre respeitou a língua: fez-se amante, amado, companheiro de aventuras... Guimarães Rosa.
"A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
- "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmigerado.. faz-me-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?"
Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara como riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?
(...)
-"Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo - o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam.. A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"
(...)
Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço:o verivérbio."
(Famigerado, Primeiras estórias, JGRosa).

terça-feira, 19 de maio de 2015

Meu amor, cadê você? Eu acordei, não tem ninguém ao lado.

Nalguns dias a vida corre feito fogo rasteiro. Ríspida, não vacilando em nos magoar uma parte do corpo.
Em dias que acordo sôfrega, sei que não importam as tentativas frustrantes de sorrir. Vou colorindo de cores múltiplas minhas amarguras. Ao final do dia, cortada pelo vento gélido no rosto, desapareço dentro da minha tristeza.

Ouço Adriana cantar. Por fora, silêncio. Por dentro, oco.
E não há ecos no oco de mim.

Cobro-me, julgo-me, torturo-me por jogar comigo mesma. Brigo por não saber não ser o que eu não sou. Ser o que deveria ser é o caminho ideal para os desmazelos não ocorrerem mais. Apenas não sei não me ser. Sinto, mas sinto. Algemada nessa agonia de não ser o que deveria ser, sigo me sendo, insensata, tola, insegura full time.

Agora o som abaixa.
Do outro lado da linha, uma voz tranquila. Passei um dia intranquila por sua ausência. Mas a tranquilidade do outro lado, ao invés de me acalmar, deixa-me mais triste pelo tempo que perdi, perdida de mim. Cubro-me com um manto de proteção. A camada que não é de mim e tenta fazer-me ser quem não sou, aquilo que não desejo, mas preciso ser. Almejo. Não influência, mas determinantemente.

Será que você, meu bem, será que você, não vem... ?

[cbo]