terça-feira, 26 de março de 2024

Res-pirar

 Sinto cansaço, sinto alegria, sinto dores no meu corpo por passar muitas horas em posições ingratas, apenas para que você fique bem. Falta atividade física? Sim, mas na semana que vem já resolvo isso, bebê.

O louco desse caminhar é pensar que tudo passa tão ligeiro, mas tão ligeiro que logo você está andando e correndo por aí e minhas dores não serão por te carregar.

Noto em mim uma força descomunal. Não a conhecia, ela é nova. Faz com que haja uma resiliência em meus atos, uma paciência gigantesca em meus gestos. Você é tão pequeno, filho, tão frágil, tão delicado. Você ainda não conhece - e nem sequer merece - as grosseirias do mundo. Quero preservar você, fazer um casulo. Acho que isso é ser um pouco mais.

Os dias passam e você nos reconhece melhor, já faz das suas graças, se encanta com o mundo - muitas vezes um furo na cortina já garante sua atenção por uns 5 minutos, mesmo que do outro lado estejamos nós agitando algum bichinho colorido. É incrível acompanhar sua curiosidade, sua delicadeza de viver.

Sinto-me tão rude, tão grosseira. Preciso aprender bons modos para conseguir acompanhar sua doçura.

Tento, filho, resgatar algo em mim que seja doce e delicado para lhe oferecer. Então, respiro para não pirar. Gasto todas as fichas da paciência (seu pai que não ouça o porquê resta tão pouco pra ele, rs). 

Te amo e vamos seguindo.

[Criseida]

quinta-feira, 7 de março de 2024

Descobertas

 Aos poucos, redescubro o mundo por suas mãos, seu olhar, seus grunhidos incertos.

Sei que, de alguma maneira, estamos conectados nessa aventura de mil e uma descobertas. Hoje você descobriu meu cabelo, por exemplo. Tointoin de mamãe. Seus olhos acompanhando o balançar dos meus cachos. Logo você, Leãozinho, de quem eu gosto tanto... "Gosto de ficar ao sol, leãozinho, de molhar minha juba... de estar perto de você e entrar no mar..."


Pois é... descobrir.

Hoje eu descobri que é possível ter mais leveza nessa rotina. Completamos quase uma semana juntos, bem juntos, juntinhos, só nós dois pela primeira vez. É muito solitário ficar a sós com um bebê recém-nascido. O pensar fixo nele, o ciclo "mamar-dormir-banhar-mamar-etc etc etc" nos deixa exauridas. As redes sociais cansam, porque, como únicas companheiras, fazem a gente associar os feeds à solidão materna. Não dá vontade de falar muito virtualmente. A única vontade é ser ninada também, como o bebê. Mas agora somos nós a figura do mais velho, do que protege, do que nutre, do que carrega. Duro fardo descobrir-se colo infinito, descobrir que agora se está acompanhada para sempre, com uma carga mental bastante pesada. Mesmo assim, é possível encontrar alguma leveza no caminho. Estamos tentando, filho.

E estou monotemática.

Será difícil voltar a escrever de escreveres quando estou tomada por essa recém-maternidade que define uma das pontas de minha vida. C' est la vie!

[Criseida]

segunda-feira, 4 de março de 2024

Trinta dias de você

Talvez, apenas  talvez, o nome dessa página finalmente tenha sentido: há pegadas em meu caminho. Hoje sei que nunca mais estarei só, por onde for, carrego minha cria cravada na carne, nos punhos, no leite que jorra de meus seios.

Ele chegou há um mês, no dia preciso em que meu pai completaria 80 anos caso ainda estivesse aqui. Não acredito tanto em coincidências, penso que as coisas acontecem no tempo e vez precisos. Há sete anos, exatamente quando meu pai se foi, eu comecei o meu processo de gestação. Descobri dentro de mim que ser mãe, ter um filho ao meu lado, era uma necessidade, uma urgência inapelável. Foram sete anos esperando o momento certo e você estava ali, "na ponta da agulha", pronto para vir ao mundo. Foi pá-pum. Talvez muito pá-pum para mim que não sei se depois de 7 anos estava tão pronta assim para ser mãe. Tenho uma experiência rala, eu sei, mas queria dizer, filho, que estou tentando me reconhecer nesse função nova para nós dois. Fomos um só corpo, agora estamos dividos outra vez.

Ele chora, eu choro também. Minhas lágrimas sentem o peso de uma consciência que ele, ufa, ainda não carrega. Ele não precisa sofrer de futuro ou de passado... ele vive o hoje. É um pouco desse hoje que eu preciso respirar e há um mês ele me ensina, todos os dias, que hoje é hoje. Vivo sem certeza qualquer sobre o amanhã, sobre o meu sono, a minha alimentação, o meu ânimo. Estou aprendendo, carregando comigo uma carga bastante pesada para agir com tanta naturalidade. Penso que ele merecia mais, melhor, alguém melhor para chamar de mãe. Mesmo com tantos anos de preparação, eu nunca fiquei pronta.

Talvez, mais uma vez talvez, esse querer ser melhor faça de mim uma mãe.

Agora sou mãe.

Essa busca por tentar adivinhar pensamentos, dores, sensações novas que esse pequeno ser esboça de maneira delicada. Hieróglifos de amor. Que linguagem doida o maternar.