sábado, 8 de outubro de 2016

Raízes amareladas



Dizem que o amor floresce, mas não pensam que há flores com espinhos. Em principal as mais belas, as que nos extasiam os olhos, as quais pressupõem desde o início sua relevância para o mundo. Sentem-se, sabem-se, nos consomem. E não é à toa que os espinhos se constituem ali, intrinsecamente: sabem também eles da importância que tais flores têm. O que fazer nesse espinhaço, se os caminhos são tão poucos, como aceitar as dores do risco ou contentar-se com a segura distância que eles nos instigam?




Se o amor é fato que floresce, também fustiga. Porque flores não perduram o tempo do nosso gosto, mas duram conforme a raiz que lhes enrijecem. Os amores, trocados de vasos, tendem a murchar um pouco antes de reviver. Sobreviver. Sobreflorear. E alguns não resistem a essa dificuldade do tempo, às inconstâncias da alma. Falta água. Algumas dessas flores-amores desmancham-se, pétala a pétala, decretando o fim, nem sempre quisto, mas determinantemente belo.




Tal como floreamores, aguardamos as estações do ano para entender qual destino teremos, o que daremos, o que faremos. A primavera, mais do que o fatal inverno, é a estação crucial para a revelação das almas. É ela a esperada. A qual parece permitir, semear, construir, primar pela beleza das flores - ou dos amores, se assim preferem. E não se pensa, uma vez mais, que a primavera, se ajuda, também limita o homem. Nem tudo é ouro. Nem tudo ela dá e muito questiona. Colocados contra a parede, ela nos diz que é tempo de decidir: juntar toda terra, raízes e cores ou render-se ao pó dos calorosos dias que verão.




Não entendo da natureza das flores e me parece condição essencial para dizer do amor, tão incógnita chave que permanece, incrustada, morada em mim. Na primavera, o amarelo atravessa minh'alma, meu ânimo, meu nó. Torna-me menina, frágil, troca meus vasos, castiga minhas raízes. E no amarelo, pareço florescer.


Cbo