quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Calo(u)r-ada.

Esses dias observei muitas coisas pelo campus. E pela internet. Mas, principalmente, prestei atenção nas conversas que englobam esse clima de "entrada na universidade", que se repete todos os anos.

Estou na USP desde 2007, logo, já é a sétima vez que acompanho essas entradas e essas conversas. Entre elas, sempre há as opiniões "sábias e abarrotadas de experiências" dos veteranos.
Uma das que ouvi foi a seguinte:

Na mesa do bandejão, dois veteranos conversavam sobre seus cursos. Conversavam sobre a falta de utilidade das aulas presenciais.
Justo, justíssimo o que eles disseram sobre a obrigatoriedade das listas de presença. Concordo e sempre levantei essa bandeira: somos universitários, adultos e devemos ser, no mínimo, conscientes do nosso papel na sociedade - sociedade a qual mantem nosso ensino - e, portanto, atitudes como "forçar uma chamada" apenas retrocedem o papel autônomo que os alunos universitários devem engajar a um comportamento escolar medíocre.

Mas, então, as listas são ruins por isso. Por não possibilitar esse "livre-arbítrio" universitário.

Entretanto, não era o que eles debatiam. A questão girava na diferença que há na aula ou no simples "faço isso em casa, sozinho." Não acho interessante que um aluno acredite que o professor não tem nada a acrescentar. Como um deles disse, "posso só aparecer pra prova", fácil assim, confundindo autonomia com aprendizagem.

O que é uma faca de dois gumes.

Os professores que aqui estão, trilharam um percurso acadêmico que os torna dignos de atuar na frente da sala de aula (teoricamente, tudo bem, nem tudo são flores). Alguns não possuem didática e facilidade de comunicar e socializar seus conhecimentos, mas todos possuem uma carga enorme de conhecimentos: esse é o fato.

São esses conhecimentos que os habilitam a estar ali, na frente, ministrando as aulas, orientando pesquisas, pesquisando.

De tal modo, como um aluno pode acreditar que a formação dele não depende desse conhecimento que ocorre, muda e se faz no calor de discussões em sala de aula? Os conhecimentos que surgem com as dúvidas de um dos alunos que poderia nunca ter surgido na quietude do lar. Conhecimentos que surgem, inclusive, da falta de conhecimento: tanto dos alunos, quanto do próprio professor.

O professor não é o gênio que devemos idolatrar. A ideia aqui é outra, é pensar de outro modo, por outro viés: sala de casa ou sala de aula? Qual a diferença?

Esse mesmo aluno, que estava ali, sentado ao meu lado, estuda e pesquisa para, quizá, um dia, se tornar professor universitário.

E, como, se não acredita nas somatórias que só a sala de aula, presencial, conseguem compor?

Não é a figura do professor que faz a diferença entre esses ambientes: casa vs. universidade. É o conjunto dessa figura multiforme que é a sala de aula: cada professor, cada aluno, cada novo dia.

Os bixos entram no nosso "mundinho acadêmico" respirando flores. Em poucos momentos são bombardeados por tintas, cartazes, chamados para atléticas, baterias, protestos, greves.
Se perdem. Se encontram. Não lembram quem são.

E, no meio dessa cachoeira de informações, eles podem estar ali, sentados, no bandejão, ao lado de dois amigos que tenham uma conversa parecida com a qual eu presenciei.

Bixos, meus caros, que, em geral, estão acostumados com essa característica escolar: estuda, decora, prova.
Afinal, é isso que o vestibular cobra.

Não é preciso pensar, criticar ou criar redes de conhecimento efetivamente. Basta lembrar das regras e músicas e tantas outras formas decorebas de cada disciplina.

E, então, ser cobrado na "chamada" será a continuidade de uma rotina. Se o professor universitário cobrar.
Ou então, será um alivio se "livrar da chamada" e poder ficar em casa, aparecendo na semana de prova e só.

No meio do caminho, esse bixo, já veterano, terá essa dupla escolha:
-permanecer com a ideia escolar limitada: de cobrança e limitação na obrigatoriedade;
ou,
- construir um pensamento crítico frente às diversas sutilezas que a instituição impõe: as listas de chamada não são amigas pois quebram o pensamento autônomo do graduando; a sala de aula é rica porque os conhecimentos que são construídos em grupo diferenciam-se dos pensamentos individuais; os alunos  compreendem que nada aqui dentro é "ao acaso" e perdem a inocência. Desfaçam-se as ilusões.

Ao acaso?

NADA.

C.B.O.

Bobices

Tá fácil procê?
Pra eu tumem não.
Bate boca
Vira cara
Chora. Bebe. Ri. Bebe. Chora.
Compulsões.
E o dia, danado, foge dos dedos:
Presa escorregadia, 
Vai-se embora morar do lado
daquela tal de 
"Saudadoutrora"

Criseida (08/02/2013)

Uns pensamentos aí.

Vai.

Pode me perguntar sobre tudo: cor favorita, cinema, literatura ou futebol. Medicina alternativa, drogas, política ou sistema de cotas. Venha me perguntar sobre tecnologia, dança, xadrez. Coca-cola ou BBB. Qualquer assunto eu bato peito, só não me pergunte do Amor.
Ah, esse danado.
Passou por aqui, fez estrago, feito malandro, estraçalhou o pobre coração várias vezes. Gingou, bateu, voltou, feito bola no travessão. Esse aí deixou pedras no caminho e plantou flores. O tal do amor, veio, foi, voltou. Mas, no fim, nos deixa nesse diálogo surdo de corações órfãos de amar.


C.B.O
(18.02.13)

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Liberdade de correntes transparentes... Livre és?





Muitas perguntas pululam e ululam aqui nessa mente ociosa.
Tão ociosa porque percebe que suas atividades são tão, tão, comuns.

Não há nada de excêntrico, não há nada de novo, não há criação.
Sobrevivo nesse mar de seguir as marias por aí.

Nós seguimos.

E, quanto mais penso, mais é difícil se desraigar dessa maria-vai-com-as-outrices dessa vida!
Como se tornar diferente em um mundo que se copia com atalhos o tempo todo. Que se compartilha o tempo todo sem ao menos perceber que são as mesmices compartilhadas que geram um só comportamento.

Hoje, estamos conectados.
Da melhor e da pior forma possíveis.
Somos próximos de todos e distantes de nós mesmos.
Já não criamos, já não discutimos, já não nos tocamos pessoalmente.

Não sabemos mais sobreviver por um mês longe de toda essa parafernália digital. E não só perdemos o direito de escolher ser omisso a isso, como somos obrigados a nos conectar ainda mais.

São redes e fios invisíveis que não cansam de nos enredar. Assim, quanto mais enredados estamos, mas difícil fica parar para aceitar essas amarras escravistas que nos prendem.

Penso e logo percebo que o simples ato de pensar pode não ser mais meu. Já é cópia, já sou um ente compartilhando fatos.
Quando vemos a História, pela linha distante do tempo, ficamos indignados pensando em fatos que cremos como insuportáveis, intoleráveis, impensáveis para nós, entes intelectualizados.
Como mulheres se submeteram por tanto tempo ao mando e desmando dos homens? Como a Igreja dominou e cegou tantas sociedades (e ainda cega)? Como eles podiam julgar "bruxos/bruxas" e queimar pessoas ao ar livre, como espetáculo social?

Meio irracional, não?
Como, daqui 300 anos, nos julgarão? Os seres cada vez menos produtivos dominados por uma tecnologia cada vez mais moderna.
Uma "raça" que se diz globalizada e na qual o "nós" é muito mais forte do que o "eu".
(Só por esta escrita consigo notar o quão "ser-social" e inútil sou.)

E o que eu queria, só queria, era um mundo de constelações ao meu redor, mesmo que eu me quedasse ali, sentada, admirando a criação e a beleza que algum EU tem para oferecer ao NÓS.

Mas, infelizmente, trocamos o "mundo da lua" pelo "mundo da nuvem" e, por aí vamos, carregando o peso de "nossas" tão sábias e atualizadas e compartilhadas escolhas.


Curte aí, vai.


C.B.O.