terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Justiça


Que a justiça seja feita: esse papo de que só escrevemos nos descaminhos do desamor é um fato constatado. A felicidade não quer ser escrita, pensada, materializada em texto.
De tão intensa, a busca da felicidade se encontra no complexo das relações vivas, com o pulso dilacerado em batidas nada ritmadas e a carne vermelha das paixões febris. Ah, escrever enquanto se é feliz parece mito, dizem que é mito, mito é.
Hoje escrevo apenas embasada na desilusão.
Minto. Tenho como base muito mais a insegurança do que a dona desilusão, tanto que espero e aguardo que ela passe rapidamente, assim como veio. A desilusão da insegurança sempre surge aos quarenta minutos do segundo tempo, fazendo folia em nosso coração. Despedaçando-nos, feito um vento muito forte que chega logo que a rosa está por desabrochar, pintando a sensação sombria de que não há como haver rosa em um lugar tão cheio de vendavais.
O amor (e a felicidade que o amor colore) me parece um pouco como esse sinistro fantasma que se forma antes de abrirmos, de fato, nossas portas.
Assim, a insegurança que impediu Sio Nésio de ser mais rápido ao entrelaçar sua mão no polvilho com Maria Exita, é a mesma que hoje me prende ao ato arcaico de escrever como forma de consolação.

Reflito que a escrita é o consolo dos doentes de amor, de falta de amor, de perda de amor.

Porque escrever é libertar-se...


[criseida]