terça-feira, 17 de março de 2009

"Os desastres de Sofia"

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"Meu coração morria de sede, sim."


"Eu era o único eu."

"E eu não soube como existir na frente de um homem."

"Um medo pequeno, todo frio e suado, foi me tomando."

"O que vi, vi tão de perto que não sei o que vi (...)
Eu vi dentro de um olho (...)
Eu vi um homem com entranhas sorrindo."

"Percrustou-me suave, indiscreto, tão meu íntimo como se ele fosse o meu coração."

"...a prece profunda não é aquela que pede, a prece mais profunda é a que não pede mais."


"eu já sabia que eu era inevitável."

"Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro."

"Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que eu tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto- uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir."

"as palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito."



[Os Desastres de Sofia- Clarice Lispector]

Das vantagens de ser bobo*

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"-O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar no mundo.
- O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz aguma coisa, responde: 'Estou fazendo. Estou pensando.'
-Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
-O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem.
-Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
-O bobo ganha liberdade e sabedoria para viver.
-O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes o bobo é um Dostoievski.
-Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro.
-Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
-O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo nem nota que venceu.
-Aviso: não confundir bobos com burros.
-Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a frase célebre: 'Até tu, Brutus?'
-Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
-Os bobos, com suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
-Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
-O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
-Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
-Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham vida.
-Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.
-Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, como tolo, como fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita o ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
-Bobo é Chagall, que põe a vaca no espaço, voando por cima das casas.
-É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
"


[Clarice Lispector, in: Descoberta do Mundo]

.pruraul.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Plágio de Amores.

*



Em alguma folha, em alguma máquina ou em algum pacote velho de pão ou guardanapo, Clarice Lispector escreveu o seguinte:

"...preciso perguntar, embora não saiba a quem, se devo mesmo amar aquele que me trucida e perguntar quem de vós me trucida."

E cá, eu, que não sou nada Clarice, nada Lispector, mas que também possuo um pedaço de folha já rabiscada, e uma velha caneta, já há muito velha e usada, a parodio, humilde serva, para dizer o que vem desde dentro me corroendo, e o que é:

"..não sei se devo amar a quem amo ou a quem quero, e devo perguntar quem dentre vós me ama."

[Sensação escrota que escorre em mim.
Inútil ser entre as pegadas mortas de uma cidade cinzenta e sombria.
E sobra um doce sorriso entre meus lábios.
E a ternura do beijo que inda não foi com o afago que há muito me acalenta.
E as indecisões do inexplorado ou do fora de mão.
E a lembrança de vidas que, juntas, eram tão uma só que confundiu-se união e metamorfose.]




[e a sensação é um misto de calmaria plena e necessidade avassaladora. E num vai-e-vem de sentimentos, o eu perde-se ao encontrar-se.]


C.B.O.

16/03/2009

"Quando se perde, se ganha"...

Abelhas.

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Aqui pensando com meus sabugos.
Pensamentos...
Há dias em que estou tão hermética, que esse hermetismo serve para preservar minha face. Para conservar os sentimentos que tenho sem ter de expô-los ao máximo. Só que não consigo mais!
(Ou não consigo por ora).
É que outro dia escrevi o que "saiu" de mim e, ao reler, vi que estava tudo tão estampado, de tal forma transparente, que tive medo. Medo de publicar, medo de revelar minha vida através de minhas palavras. E a contradição é tal e tamanha, pois há vezes em que me faltam meios de expressar-me e, agora, assim, traduzida, não há coragem para entregar-me aos outros.
Por isso digo que é medo. E é pelo medo que falho. Estou cheia de reviravoltas de ser em mim. E não mais consigo reprimi-los. E não posso publicá-los. E me angustia esse descompasso. Não há matéria de que não trate ou vida que eu não englobe ou amores que eu não deseje. Mas sou uma abelha só.
Eu, abelhinha, estou só com meu mel. Mas vivo numa colméia em meio a tantas e tantas abelhas(!). Mas não dou um passo.
Aqui, eu, melada, parada, sozinha, vivo.
E aqui, estou eu, pensando.
E não há como pensar.
E não há como escapar ao destino de decidir.
E não há como escrever e não me revelar.
E não há meios de me esconder se vivo assim, tão exposta.
Meus meios são fracos pois, no fundo, há uma abelhinha zumbindo em mim: ela quer voar, rumo ao mel, ao sol, às flores amarelecidas...

15/03/2009

[C.B.O]

*amarelecidas: neologismo, amarelo+ envelhecido.

Quanto mais quente melhor

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"Jack Lemmon, em travesti, tenta livrar-se dos avanços do milionário Joe E. Brown, que pensa que ele é mulher e quer casar-se com ele.
'Fumo demais', argumenta Lemmon.
'Não me importo', responde Brown.
'Não posso ter filhos', insiste Lemmon.
'Tudo bem', diz Brown.
'Ah, é? Eu sou homem!', exclama Lemmon, arrancando a peruca.
O milionário não se abala:
'Ninguém é perfeito.' "



hauahuahua....

Cena de "Quanto mais quente melhor", dir. Billy Wilder.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Ain.

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Dai que eu não mais sei viver assim, sufocada.
Tô passando por esse mal de querer o mal alheio.
Sim, muito mal.
Porque, simplesmente, não me faz bem fingir que estou bem com quem não quero bem.
Tipo assim...assim!
entendes? nem eu.
Ain.

Ain.
Eu sou assim: transparente.
Não sei fingir que sou o que não sou, não sei fingir que gosto de quem não gosto e...quando acho que não me gostam, pior ainda.
Pessoas que falam demais...bonito demais, se acham demais.
ME IRRITAM!

E sim, estou irritada. MANTENHA DISTÂNCIA!
é que de falsidade e hipocrisia eu já estou farta.
Tão farta que me falta espaço para respirar e viver.
Porque não gosto de nutrir esses momentos de ódio declarado e infelicidade exarcebada.
Cansa, sabe?
Eu sei.

E muitas vezes me parece que apenas eu sei, ou sinto.
E nos olhos dos olhos eu vi o ódio contra mim. E agora o sei assim: C-O-N-C-R-E-T-A-M-E-N-T-E!

cansadinha.

E eu fiquei, e eu vi, e eu voltei.
E fugi de tudo o que me fazia mal e..hoje, me faz SOMBRAS.
Preciso reaprender a esquecer as coisas e pessoas deploráveis que transitam na linha do meu destino.
Porque de pessoas que não ME fazem bem, estou cheia.
SATURADA.
E não mais me importa se estas pessoas fazem mal à todos ou só a mim.
Estou num momento doentio e egoísta e ..portanto, dane-se.
O que importa é que não a gosto. E nunca gostei, desde o primeiro momento.
E cansei, hoje, de engolir essas pessoas.
Não sou obrigada, ou o sou?

Afinal, tenho plenos direitos de escolher pro meu dia-a-dia as pessoas que me fazem leve e me querem bem. Pra que aturar aqueles que me fustigam, apenas para ser "boazinha" para meus queridos?

Depende. Às vezes, há dias, em que nem os queridos estão tão queridos assim. E sobra isso. Essa falsidade de aturar quem não aturo e sorrir para olhos que me querem queimar.
AIN!!!

Quero gritar e destruir essas más coisas que andam no meu pensamento nesse exato segundo.
Destruir o ciúme, o ódio, o rancor, a raiva e a inconstância de sentimentos de vai-e-vem.


Mas passa, ô se passa.
Quer dizer: eu acho.


E se não for, os dias dirão.
Os dias dizem tudo.
Dizem, inclusive, que estou cansada.


Mas depois de amanhã tem festa.
E depois de depois de amanhã também.
E o fim-de-semana tem de um todo para ser "O" Fim-de-Semana.

e não são os maus pensamentos que atrapalharão isso.

Não é?!

É.


[Criseida]

segunda-feira, 2 de março de 2009

Injustiça

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"E quem disse que o mundo deveria ser justo?" Verdade, quem o disse? E, por quê espero vir esta justiça completa que compense todos os sentimentos tristes que perpassam minha alma. (Principalmente os quais nada fiz por merecer).
Clamo justiça mas, qual justiça? Quero que quem me fez sofrer também sofra? Não, não o quero.
O que desejo é que essas pessoas aprendam a não fazer com outros o que fizeram comigo, fazendo-as não sofrer. Sentir-me-ia recompensada apenas por esta mudança de atitude. Para mim, seria a justiça maior.
"Mas quem disse que a vida deveria ser justa?" Quem disse, não o sei, mas aprendi o que também foge à capacidade de meus dedos: mudar as pessoas.
A única coisa passível será inspirá-las, a mudança só chega através do de-dentro.
E o negócio é paciência e espera.


Mas quem disse que eu também devo ser justa?!




[c.b.o]


01/03/2009