segunda-feira, 4 de março de 2024

Trinta dias de você

Talvez, apenas  talvez, o nome dessa página finalmente tenha sentido: há pegadas em meu caminho. Hoje sei que nunca mais estarei só, por onde for, carrego minha cria cravada na carne, nos punhos, no leite que jorra de meus seios.

Ele chegou há um mês, no dia preciso em que meu pai completaria 80 anos caso ainda estivesse aqui. Não acredito tanto em coincidências, penso que as coisas acontecem no tempo e vez precisos. Há sete anos, exatamente quando meu pai se foi, eu comecei o meu processo de gestação. Descobri dentro de mim que ser mãe, ter um filho ao meu lado, era uma necessidade, uma urgência inapelável. Foram sete anos esperando o momento certo e você estava ali, "na ponta da agulha", pronto para vir ao mundo. Foi pá-pum. Talvez muito pá-pum para mim que não sei se depois de 7 anos estava tão pronta assim para ser mãe. Tenho uma experiência rala, eu sei, mas queria dizer, filho, que estou tentando me reconhecer nesse função nova para nós dois. Fomos um só corpo, agora estamos dividos outra vez.

Ele chora, eu choro também. Minhas lágrimas sentem o peso de uma consciência que ele, ufa, ainda não carrega. Ele não precisa sofrer de futuro ou de passado... ele vive o hoje. É um pouco desse hoje que eu preciso respirar e há um mês ele me ensina, todos os dias, que hoje é hoje. Vivo sem certeza qualquer sobre o amanhã, sobre o meu sono, a minha alimentação, o meu ânimo. Estou aprendendo, carregando comigo uma carga bastante pesada para agir com tanta naturalidade. Penso que ele merecia mais, melhor, alguém melhor para chamar de mãe. Mesmo com tantos anos de preparação, eu nunca fiquei pronta.

Talvez, mais uma vez talvez, esse querer ser melhor faça de mim uma mãe.

Agora sou mãe.

Essa busca por tentar adivinhar pensamentos, dores, sensações novas que esse pequeno ser esboça de maneira delicada. Hieróglifos de amor. Que linguagem doida o maternar.

Parabéns para nós, meu amor. Sobrevivemos ao primeiro mês.

[Criseida]

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