segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Gerar

 Gerar é uma palavra que me intriga há alguns anos. 

Antes de me intrigar, era uma palavra qualquer, usada a esmo em redações, trabalhos acadêmicos, conversas online. Não importava o sentido, apenas usava na  troca de "produzir, construir, provocar". Quando pensei pela primeira vez, graças ao meu orientador, que esses outros sentidos não eram claros no uso do verbo gerar, tive um choque semântico. Faz parte do processo aprender, reaprender, resignificar.


Procurei aqui rapidamente no google "Gerar - significado" e surgiu "dar existência, procriar, fazer nascer, brotar, germinar".


Agora, eu gero. Gesto. Com muita loucura, às vezes sem entender muito bem o processo, com muitos medos e paranóias que nasceram em mim junto com meu broto. Ele brota aqui dentro e o meu eu, de dentro, precisa se reajustar para que caibamos nós dois. Ter dentro de mim alguém, uma outra pessoa, um estranho. Ser ninho. De fato, gerar não é produzir, nem é construir: gerar é dar existência a si e ao ser que agora vige dentro de si.

Assim como se reajustar ao novo não é fácil, simples ou casuístico. É um processo de dor. O filho gestado foi antes o filho querido, esperado. Esse fato, no entanto, não diminui o potencial transformador da gestação, que agora avança para mim - e às vezes contra mim - de dentro para fora. Dói se perder já sendo tão avançada na idade, dói não se saber mesmo tendo passado por tantos altos e baixos. E essa dor, dor da perda, é um paradoxo com a sensação de amor que lacera a carne. Um amor absoluto, esquisito porque nasce de um resultado de exame de sangue e nos muda. Nem todas mudam da mesma maneira, mas é inevitável mudar. Transformar-se. Saber que dali em diante as coisas já não serão as mesmas. 

E assim, de repente, aos 36 anos, o verbo gerar provoca em mim novas inquietações, novos medos, novos desafios.

Continuo aprendendo.


[c.b.o.]

Nenhum comentário: