quinta-feira, 21 de maio de 2015

21 de maio - dia do letrólogo

Dia do profissional de letras. A melhor forma de nos homenagear é, antes de tudo, o respeito. A título de ilustração, deixo as letras de alguém que sempre respeitou a língua: fez-se amante, amado, companheiro de aventuras... Guimarães Rosa.
"A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
- "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmigerado.. faz-me-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?"
Disse, de golpe, trazia entre dentes aquela frase. Soara como riso seco. Mas, o gesto, que se seguiu, imperava-se de toda a rudez primitiva, de sua presença dilatada. Detinha minha resposta, não queria que eu a desse de imediato. E já aí outro susto vertiginoso suspendia-me: alguém podia ter feito intriga, invencionice de atribuir-me a palavra de ofensa àquele homem; que muito, pois, que aqui ele se famanasse, vindo para exigir-me, rosto a rosto, o fatal, a vexatória satisfação?
(...)
-"Lá, e por estes meios de caminho, tem nenhum ninguém ciente, nem têm o legítimo - o livro que aprende as palavras... É gente pra informação torta, por se fingirem de menos ignorâncias... Só se o padre, no São Ão, capaz, mas com padres não me dou: eles logo engambelam.. A bem. Agora, se me faz mercê, vosmecê me fale, no pau da peroba, no aperfeiçoado: o que é que é, o que já lhe perguntei?"
(...)
Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço:o verivérbio."
(Famigerado, Primeiras estórias, JGRosa).

Nenhum comentário: