sexta-feira, 2 de maio de 2014

Suspiros poéticos de um diálogo que não mais há.

Meu querido,

Há dias venho percebendo como são constantes os momentos em que nos metemos nessa algazarra chamada vida real. Deve haver, penso com meus botões, algum outro modo de vida, longe deste, chamado mundo verdadeiro. Não, não o "mundo da verdade" absoluta e única. Este, ao certo, não há. 
Chamo de algazarra ao que venho pensando da vida real pois, (engraçado como a vida é irônica, não é mesmo?) tenho notado que as coisas andam turbulentas para você também.
Para mim andam assim, de fato. E o fato de voltar ao meu ofício torna tudo bem menos medíocre: a todo tempo é preciso que eu pense. É preciso que eu reflita. Me pedem, me pagam para tal atividade.
Como se não se bastasse este labor, outros, de fora, se aproximam de mim para pedir que eu fale. Não, não querem que minha voz ressaiba os poemas dos grandes mestres ou as máximas das grandes obras. Quem me dera assim o fosse. Estes, que chegam de perto ou longe, pedem que eu transpasse ao mundo tresloucado, chamado real, aquela enorme quantidade de pensamentos que eu venho acumulando em meu existir.
Crês nisso?
Mas estes seres não dialogam, querem o que eu penso para saber, no simples fato de que querem saber, ou então para rechaçar minhas ideias com argumentos tão mal amarrados que me dá ganas de enforcar as falas de alguém por vir até mim com tamanha ingenuidade discursiva.
Pois então. Deste lado, assim segue meu rio.
Do lado de lá, o que pressuponho ser o teu lado, meu caro, há um rio com pequenas ladeiras maçantes. Tenho lido. Espero que possa se desligar deste aparelho chamado fala e encontre no modo interno uma maneira de dizer menos o que os pensamentos nos cutucam. Porque, simplesmente, a gente diz mais ou menos o que esperam que a gente diga. E também o que nós mesmos esperamos de nós. 
Melhor seja investir em poemas ou frases bregas.
Nada de Kafka mais, ou então Shakespeare ou Baudelaire. O negócio, de então, é proclamar um poema de amor com estrofes tolas. Nada de refletir sobre Machado. Se for ouvir Chico, prefira suas novas baladas, são muito menos pensamento e mais emoção.
No fim, acho que este seja nosso melhor caminho.
E um até, breve.
Criseida.

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