quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Antigamente.

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Quando eu era pequena, era diferente: eu gostava da Amarela.
Ah! Tão forte, tão delicada, tão cor quanto um reflexo, tão absoluta quanto eu não ousara ser.
Mas o tempo, tal do tempo, fez com que eu me rendesse às demais cores, conhecesse e entendesse-as, me fez arco-íris.
Eu? Ah, de mim... Fui incapaz de sincronizá-las, de igualá-las em meu querer; meu coração é egoísta, só se entrega se for um a cada vez.
Pois bem veje quem volta, olha quem, amareladamente, faz-se re.presente no meu mundo, reaviva minhas lembranças: a Amarela.
E tão mais delicada, tão mais sutil ressurge, ela, a Amarela, voltou em forma de flor.
A delicadeza é, contudo, um disfarce, a capa de um livro rígido, de palavras duras e pensamentos concisos. A flor, as flores, a Amarela, por fim, mostra-se como rocha, sofre do mau da solidão.
Todas as vezes ela vem sozinha: meio ao nada, cerceada por Violetas e Rosas ofuscadores, num gramido sensabor, mas lá está, faz viver, vive!
Oh! Tão meiga rocha, oh, Amarela! Quisera eu ser toda sua delicadeza e toda sua bravura, meio à esse deserto mundo em que vivo. Solidão do só-entre-os-demais.
Aparece alguém.
Às vezes, o alguém me encontra, me abre um sorriso, me diz ser eu tão bela, que, tola, creio.
Tola, mas, no entanto, não sou eu uma das únicas criaturas que te enxerga, que te enaltece a destreza; não sou, por ventura, a única que nota sua força, que conclama seus ímpetos, que zela por tão solitária vida, Amarela?
Sou uma flor amarela.
Eis, que ao desviar meus olhos do papel, como em magia, num tronco seco,numa árvore nua, em duas pontas de dois galhos paralelos, lá há, à sós, duas flores. Sim, são ipês, é setembro, são amarelas.
Amarelas, sempre...



[C.B.O.]

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