segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Puella

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...sim, algumas ainda estão reprimidas, no submundo, mas não quietinhas; se agitam, incessantemente, querem sair, lutam, pedem, rogam, mexem-se, causam o mau estar e a dificuldade de raciocínio: elas não param.

Um dia a Menina pensou o porquê de algumas coisas, juntou a esses pensamentos os últimos fatos ocorridos na sua pequena vida de contos-de-fadas-real, e descobriu que sofria de um mal que aplaca a maioria das Meninas, todas as Meninas, mas cada uma de um modo diferente, num grau diferente. Ela sofre.

Pois que, outrora a garoa caía copiosamente sobre seus cabelos revoltosos, ela ria, lágrimas uniam-se às gotas de chuva, a Menina corria, fugia de um mundo sem cor, fugia de si mesma.

Há, no mundo da Menina, diferentes tipos de pessoas: as que não a compreendem, e querem a vida metódica e o mais "científica" possível; as que tentam entendê-la, mas acabam chegando a conclusões absolutamente absurdas; e as que, enfim, não buscam nada entender e sentem, simplesmente sentindo, o exato da Menina: são seus semelhantes.

-Áiiiiii...grita de dor a Menina. Ela quer gritar, deixem-na gritar, deixe que a pobre Menina expresse à grosso modo aquilo que a angustia. Deixe que o mundo descubra o que há por baixo do belo vestido florido e dos longos cabelos arrumados da Menina. Parece máscara, por trás há dor.

Tenho dó da Menina, me sinto a Menina. Cada passo dela é um organismo meu que se mexe, que anda, que avança no mundo. A Menina não sabe que eu existo, não sabe que a observo, não sabe que sempre há alguém por nós no mundo. A Menina acha que o mundo dela é só dela, e diferencia de tudo o que já foi estudado e mapeado e psicografado. A Menina é ignorante sobre os fatos, a Menina é do meu mundo com um pedaço de mundo novo, de mundo dela. Pobre Menina.

Eu a olho, a observo, tal qual a um espelho. Há tempos que não me vejo, não me cuido, não me saro: minha vida é ela, somente ela, ela é tão especial, tão ela.
Dá medo tocá-la, dizer que eu existo- a Menina causa medo nas pessoas. Ela é tão, tão...

"Ser TÃO assusta as pessoas", foi isso que ela acabou de escrever no fim do caderno. A Menina inda estuda, inda sai com amigos, inda apaixona-se, inda lembra velhas pessoas, velhos sentimentos... a Menina inda vive, acredite-me!

O que será do destino da pequena Menina? ...viagens, passeios, mais dor, mais desamor?
Coitada, a cuido. De longe, mas cuido.

Será que ela se importa comigo, será que sabe quem sou? ..ela é tão ela que, às vezes, é como se não coubesse mais ninguém no mesmo ambiente que ela ocupa. Dói vê-la sorrir: é tão lindo, tão mágico, tão puro...

Ultimamente minha Menina quase não mais sorri. Anda triste, cabisbaixa, numa sem-graceza de dar pena.
Menina...menininha...


Só espero que ela Me sobreviva, sem ela, eu não sou mais eu.

[c.b.o.]

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