sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

A mão que suga.

.



A mão que suga as forças, aperta o pescoço da Menina. Dói nela, como uma faca que vai entrando e correndo o corpo num espaço de tempo infindável e torturante. Mas a menina não grita.
Uma pequenina lágrima busca saída pelos seus gigantes olhos, mas a Me-nina não pisca, não enxerga, não a deixa cair. A Menina, por dentro, é água-e-sal.
Um arrepio cortante transpassa a pele da garota que é toda mágoa e tristeza. E solidão. Não, minha menina não merece mais solidão, mais mágoa e mais tristeza. Na escola da Menina todas essas matérias já foram cursadas, e sua experiência por elas transpassa a maior das classificações.
Pobre menina.
A mão vai sugando, pára. A Menina pensa, por um segundo, em todas as coisas que vem acontecendo em sua vida. A Menina só é minha quando estou muito triste. É a Menina a minha marca de tristeza. E a Menina é tão viva.
Ela tem um sorriso e um olhar que aconchegam e familiarizam. Ela é A Menina dentre todas as demais. Ela conquista com o sorriso e as palavras carinhosas, mas as vezes é tanta ferida que se junta.
E todos os problemas voltam junto com a maré de azar.
Maré tão salgada quanto as lágrimas internas da Menina.
Mas a Menina me machuca às vezes. Ela machuca o próximo. Ela não aprende, não compreende, não se esforça. A Menina, que tanto cala, às vezes esquece que calar é necessário nas piores horas. Mas ela falou.
Abriu e falou.
Por isso há a mão que a sufoca, a hipnotiza.
Por isso há horas que ela chora, secreta, em si.
Por isso há tanta coisa rodando os pensamentos da pequena.
Ela só queria que a mão a acarinhasse.
Que a mão falasse; que lhe dissesse que tudo ficará bem e que, ela, a Mão, às vezes é rude, mas tem a Natureza mais doce possível. Que é ela quem pratica os bons atos, quem planta e colhe, quem acena aos amigos e ajuda a uma velhinha atravessar a rua. Que é ela, a Mão-tão-mão, que consola os desolados, que apacifica os furiosos, que agarra o desejo.
Mas a mão, mão...mão...mão (!) A mão apenas sufoca a Menina, e por isso ela está triste.
Porque ela conhece a mão. Porque ela sabe do que uma Mão é capaz. Porque ela só quer que a mão tente: ela só quer que a mão volte a ser como era quando lhe tocava de leve desde a maçã do rosto até os finos e grossos lábios.
A menina gosta da mão.
E a Mão não é capaz de parar de destruir.
Eu, escrevendo, apenas torço para que a mão dê a essa Menina, que é minha vida, apenas um pouco mais de ar...e de esperança.

[cbo]

Nenhum comentário: