domingo, 5 de maio de 2013

O direito à poesia

Me deixem!
Deixem que flua em mim toda a necessidade frêmula de palavras descoordenadas.
Deixem que pensamentos misturados se confundam em meus discursos.
Deixem que eu diga rosas ao invés das duras verdades.

Me deixem!
Permitam que eu poetize meus dias,
Que eu reconstrua meu real,
Que o deleite de meus feitos seja transmitido por vocábulos transcendentais,
Que eu acredite que possa voar.

Me deixem!
Podem me esquecer, nessas semanas em que sou tão casulo
Ou podem me amar, ainda mais,
Quando o que sai de minhas veias é lirismo absoluto.
Mas se permitam também!

Caso não consigam se desligar dessa necessidade impermeável de ser racional
Permitam que outros, como eu, trabalhem com as pedras no caminho
Que outros, saudosos, esperem o canto dos sabiás,
Que haja beleza no ramo caído de uma árvore
No sibilar dos ventos
Na dança de uma borboleta ao seu redor.

Me deixem, eu peço.
Deixem que eu seja uma extensão de mim,
Não permitam que eu corte o meu próprio cordão umbilical,
Incentivem para que meu eu continue presente, mesmo nos momentos mais introspectivos.

Seja,
Você também,
Um pouco poeta, um pouco amor.

A razão não consegue traduzir os sentires,
Não comporta uma reflexão colorida da vida,
Importa-se pouco com as falhas que há em você.
A razão quer respostas,
Quer o agora,
Quer que você conserte todos os buracos da sua vida, já!

Pobre racionalidade,
Mal sabe que os buracos são refeitos a cada nova curva
A cada novo amanhecer.

E portanto, é bom, tantas vezes, poetizar.
Sentir que as borboletas voam ao seu redor.
Admirar as rosas brancas que nascem nas esquinas de sua vida.
Vibrar com a cor amarela, tão sobrevivente mesmo nos dias mais solitários.

Deixem, simplesmente, deixem.


[C.B.O.]

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