quinta-feira, 19 de setembro de 2013
Semana SP na página Poesia Brasileira...
... Até que um dia,
quando menos se espera,
surge uma casa dentro do sertão
surge outra casa dentro do sertão
surge outra casa uma porção de telhas novas cor
de brasa uma porção de casas.
E uma cidade como caixa de surpresa
listou de branco e de vermelho o silêncio da grota.
Um trem de ferro passa cheio de imigrantes...
(Há em seu apito como um grito de alvorada e de tristeza:
há em toda terra um choro típico de criança,
gosto de lágrimas misturadas com esperança).
-
Cassiano Ricardo
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que dove n'alva
Acorda a natureza mais loucã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
-
Alvarés de Azevedo
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
-
Hilda Hilst
AXIOMA
Sempre é melhor
saber
que não saber.
Sempre é melhor
sofrer
que não sofrer
Sempre é melhor
desfazer
que tecer
vemos por espelho
e enigma
(mas haverá outra forma
de ver?)
o espelho dissolve
o tempo
o espelho aprofunda
o enigma
o espelho devora
a face
leio
minha mão
livro
único.
-
Orides Fontela
Se tua língua
linda, de longa
lábia se aninha
em cada lábio
lábil da minha
trompa de EUSTÁQUIO
e langue-lenga,
a minha língua
logo se vinga,
lambe o batom
sabor de ópio
de tuas trom
pás de FALÓPIO
e por lá míngua.
-
Nelson Ascher
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