quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sim ou Não?

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Passamos tanto tempo pensando nos "sim" que falamos. Nas pessoas que deixamos fazer parte de nosso cotidiano, nossa rotina, parte de nós. Limitamo-nos a imaginar os mil e um motivos de não dar mais certo, de não ser mais o "para sempre", de haver tantas falhas.
Nestes descaminhos, nos esquecemos dos nossos "não". Quem não permitimos que entrasse, quem barramos antes de um começo. No fim, há de ter muita coragem para dizer não. Coragem para impedir as possibilidades. No sim, mesmo incompleto, selamos a abertura para um novo. No não, não se vê nem ao menos o caminho de entrada. O não que dizemos constrói um canyôn entre corações. E não é fácil permitir esta construção. Mas, pedreiros hábeis, nem pensamos muito após ter a obra acabada.
Paramos a todo o momento para pensar nos "sim" que não deram certo. No sim que se transformou em não.
De fato, é muito difícil expulsar uma visita que já está instalada em seu lar. Nem sempre deixar a vassoura atrás da porta resolve esta questão. Porque o cheiro fica no forro do sofá, um fio de cabelo entremeado no tapete felpudo, a risada presa na panela de pressão.
Uma bela faxina não limpa a imagem da pessoa refletida no espelho ou suas pegadas no chão do quarto.
Mas esta dor, da limpeza, que passamos tanto tempo remoendo, tanto tempo re-planejando, que tanto tempo nos sufoca, significa, no fim de tudo, que houve um sim, que houve a abertura de possibilidades.
Mas o não, simboliza o nulo. O nunca. A transparência do vazio. O não dado de imediato, sem a previsão do vindouro, é o aborto de uma gestação não concebida, de um coito não iniciado. O não é a arma de força mais forte de que somos dotados. É a que mais deveríamos refletir antes de usar. Pois o sim significa o vivido, o a-viver, o possível.
Já o não... a ausência de significados.

Criseida

2 comentários:

Andréa Fenerich disse...

Adorei teu texto, é exatamente como me sinto. As vezes nos arrependemos de ter dito sim, mas pelo menos vivenciamos e aprendemos com ele e sempre há um jeitinho de consertar os erros por mais danosos que sejam, rss.

Criseida disse...

Exatamente, Dea.. o sim sempre tem um jeito de ser bem aproveitado, até quando decidimos não aproveitá-lo mais. Mas como decidir dar o não definitivo, aquele antes de qualquer começo? Ai que difícil....!