quarta-feira, 5 de março de 2014

Sobre o Amor.



Amor vem de amor. Vem de longe, vem no escuro, brota que nem mato que dispensa cuidado e cresce com a mais remota chuva. Vem de dentro e fundo e com urgência. Amor vem de amor. Que não cabe, mas assim mesmo a gente guarda. A gente empurra, dobra, faz força, deixa amassado num canto, no peito, no escuro, dentro, ou larga pegando sereno. Amor vem de amor. Vem do pedaço mais feio, do mais sem palavra, do triste, vem de mãos estendidas. É tecido desfeito pelo tempo, amarelecido pelo tempo, pelo cheiro da gaveta fechada, pelo riscado do sol na madeira. Amor vem de amor. Vem de coisa que arrebata, vira chão, terra, cisco, resto, rastro, coisa para sempre varrida. É delicadeza viva forte violenta. Que faz doer, partir, deixar caído. Amor vem de amor. E dói bonito.

Gs:v





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...Escolhi este trecho para falar de amor. Não do amor, assim, definido, a definir, ditado, lido, riscado, prostrado frente a nós. O que quero falar é sobre não querer mais falar sobre o amor.


A ideia de como eu falo insistentemente sobre o amor, sobre meus sentires, sobre a ausência dos sentimentos e, em contrapartida, deixo de discorrer sobre outros tão importantes fatos, acertados assuntos, tem me perseguido há tempos.

Como posso eu permitir que a minha escrita fique girando nesse grande círculo vicioso dos sentimentos, quando me perco no caleidoscópio de viveres que me aplacam, me adoecem, me deixam no limbo.


Eu quero viver todos os sentimentos que escrevo, que transcrevo.


Entretanto, largada tanto tempo à escrever, ouvir e suspirar por esses amores, vejo minha vida deslizar cada vez mais ausente deste sentimento. Ontem, ao ouvir novamente sobre como o tempo passa e, junto com ele, nossas agendas ficam tão ocupadas como o nosso coração, que não deixa mais espaço para as coisas acontecerem, fiquei pensando que talvez seja um processo do qual eu não possa escapar.


Mas então, se não há escape, por qual motivo me recolho escrevendo e pensando tanto no amor que há de vir. No amor que veio e se foi. No amor como um sentimento abstrato que flutua no mundo?


Deveria perder minhas horas escrevendo sobre o que de fato é concreto. Sobre a triste situação da cultura em nosso país, sobre o descaso dos governos com seus cidadãos, sobre a desumanização tão em voga nos dias atuais.


Tudo isso transpassa meu dia, faz parte de meus estudos, perpassa questões dentro de mim o tempo todo.


No entanto, pouco tempo dedico a esses questionamentos assim, do modo escrito. Melhor: do modo escrito em seu tempo informal.


Sou sempre sentimentalizando a vida. As promessas. Os amores que eu não vivo. A augura de meus vazios.


Sim, o tempo não tem me permitido evoluir.

Quero parar de falar deste tal de amor.


(mas não prometo...)


C.B.O.

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