domingo, 23 de março de 2014

Um novo de novo

Pinto minhas palavras.
Mais uma vez é outono e pinto minhas palavras.
Desta vez você passa por minhas memórias, mas não é fonte de inspiração.
O que o tempo fez dos nós?

Mais uma vez eu estou sentada, desenhando minhas palavras no papel de meu destino. Feito tola adolescente, pinto as minhas palavras com a inocência de quem quer conhecer o que há por vir, o que ainda não veio, o que, talvez, nem chegue a vir. Pinto palavras como quem profere a canção preferida sem medo de destiná-la à alguém que faça questão de quebrar todas as suas notas ao final.

Essa inocência é tolice, já que eu escrevo sobre sua existência. Tola, esqueço que a arte de desenhar sobre palavras é a arte do não pensar... o desenho sobre as letras é o flutuar da memória buscando os traços tão queridos e tão distantes, a quem se destinam aqueles meros escritos.

Não recomecei a desenhar sobre minhas palavras hoje. Há dias já o havia feito. Mas só hoje, no processo de re-desenho, re-colorir, percebi que minha vida se re-coloria assim também. De fato, os fatos são sempre novos. Mas há toda essa memória que faz com que eu lembre que, em minha vida, outras palavras foram coloridas.

Sinto sua falta de um modo poético, quase transcendental. É um modo de saber que, em meu coração, sua lembrança é de um colorido apagado, mas presente, como uma boa, porém velha, fotografia no álbum da vida. Sinto mais sua falta pelo modo como faltam e faltaram as palavras de carinho que brindam e brincam nas dedicatórias de um livro pronto, terminado, enfim, acabado. Mas essa falta não é dor, é esse sorriso vazio e fácil, que chega e se vai.

Junto minhas aquarelas, minhas querelas e minhas palavras.
Num barco flutuante, sem destino, sem encontro, sem estar presa em quaisquer âncoras, me vou.
Do modo leve como a água permite.
Levo comigo um livro de páginas riscadas, coloridas, amassadas, rasgadas, reconstruídas: vividas.

te deixo um beijo, meu querido. E me vou.

[criseida]

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