quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O melhor (e o pior) de viver, é observar

A vida é fácil, o ser humano que complica.
Como toda máxima, não há nada que diga mais verdade sobre o ser humano do que o próprio ser humano quando diz. Complicamos as coisas, é fato. Querer explicar ou eleger contar sua própria história é uma dessas escolhas que fazem complicar tudo.
A realidade não cabe num livro, disse Ferréz. Não cabe, eu completaria, porque a complicamos demais.
Estive pensando nisso quando passei a considerar quanto tempo tenho gasto observando as coisas. Quieta, muda em minha observação, olhando, vendo.
Nessa viagem, tão introspectiva quanto surrealista (porque as observações acumuladas são piores do que os pensamentos acumulados e vão fazendo camadas surreais, atemporais, mesclas e cortes, continuidades e inconstâncias....) eu percebi o pouco que conheço de tantas coisas que estão ao meu redor. Dos povos, dos países, das pessoas, de suas culturas e de seus desejos. O que você sabe sobre os sonhos de alguém que difere minimamente do seu núcleo (de sua renda, de sua cultura, de sua vivência, de suas experiências de vida...)? Não precisa ir longe, não precisa sequer sair de sua cidade para pensar nisso.
O quanto sabemos daqueles que des-observamos ao largo de nossa jornada?
E por isso observar é o melhor que podemos ter, porque nos faz criar empatia, no sentido não coaching da palavra, e nos faz querer fazer algo por um outro que não é o nosso narciso.
Mas é o nosso pior também, porque observar, ver, tentar, é descobrir que, cara, senta aqui:  seus braços são curtos demais.

Às vezes dá uma alegria grande conhecer o outro. Observar mais além de olhar e conhecer. Saber quem é, ouvir, dizer, trocar. E, noutras, dói... dói fundo: porque não se pode fazer nada para mudar tudo. Para mudar de forma significativa a realidade e a profundidade que é viver em um mundo tão miseravelmente desigual.

CBO

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