quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

E vai... (27/01/2009)

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Queimei a ponta do polegar direito.
Sim, do modo mais trivial que uma mulher se queima: na cozinha (outro modo trivial é o ferro!).
Vim, cozinhei, queimei. Foi tudo tão rápido e simples; dolorido, sim, mas simples: e uma pequena ferida fez-se na ponta do meu dedão.
Imediatamente coloquei o dedo debaixo de água corrente...o que amenizava, mas me era impossível manter o dedo ali o tempo todo; contudo, era só tirar e o dedo começava a latejar novamente.
Senti toda a dor da sensibilidade.
Com o tempo fui me adaptando à dor, mas quando a memória lembrava, todo o calor aplacava o local da queimadura. Queimava como se houvesse deixado o dedo frente à brasa impossível, mas não era. E o dedo, agora, latejava e queimava, incomodando o meu dia.
Dai então pensei: e se eu tivesse me queimado toda, sentiria esse mesmo calor dominar meu corpo, e essas vibrações latentes sobre minha pele?
Doeu em mim.
Lembrei que já havia em mim esses sintomas, que o meu coração latejava, possante, em todos os poros e, a chuva, ao cair em mim, logo secava, pois o que trago dentro é fogo, lava.
Sou um vulcão que explode para dentro.
Sou tão interiorizada que a terra que me cobre é cada vez maior do que o mundo que me enxerga, e sou eu mesma quem cava tal buraco.
É que o mundo já me foi dado e, agora, almejo conhecer todos os segredos e mistérios da terra.
Eu enterro o meu em mim.
Vivo para me ser e me doer, por isso dói, queima e lateja a ponta do meu dedo. E sou toda tão à favor de mim que, sabendo que me expresso por palavras, dei o prazer da dor ao meu dedo latejante, enquanto aperto a caneta contra o papel.
É que só a dor mostra como somos, pois é ela que nos faz agir.
Tantas vezes eu paro e me calo.
Tenho medo do que causo às pessoas. Já fui acusada dos mais otimistas aos mais pessimistas comentários. De resplandecer luz à manter-me imparcial e ser, por isso, burra.
Mas só eu sei quem eu sou, e o que eu quero, e o que eu defendo.
E apenas eu sei dos motivos pelos quais não ajo se não for por fidelidade a mim.
Pois é simples e triste pensar que as pessoas apenas passam na nossa vida, mas nosso eu nos será nosso do princípio ao fim e, egoistamente, é a ele que devo fidelidade.
E nem por isso eu firo as pessoas.
Pois, se sou egoísta, também sou boa, e apenas não admito o que vá contra meus paradigmas.
E quando firo, estou certa, não firo por meu egoísmo, mas firo o ego de quem não suporta seu eu sozinho.
Há muitos eu's sós no mundo.
E apesar do meu sorriso que contagia, quando há mágoa e tristeza em meu olhar, eu afasto as pessoas. Ou as amedronto por pena, ou elas possuem medo de mim. Medo de me enfrentar.
O medo que eu causo me assusta.
E é o medo que me fere todo o dia. E ele é quem faz latejar meu coração, mas mantêm quente o oco da minha alma.
O medo dói, mas também é vida!


[C.B.O.]

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