sábado, 27 de abril de 2013

Pontuada

Um viva às reticências, destinadas ao imaginário. Aos parênteses, sempre tão explicativos. Aos dois pontos, que abrem as portas para a continuação da história. Ao poder de êxtase dado pela exclamação.
São tantos pontos, entretanto, apenas os pontos finais dão o espaço a um novo parágrafo. E são estes, novos, parágrafos, que darão sentido à nossa vida.
E quão difícil é recomeçar um novo escrever? Inventar novos sentidos e argumentos e histórias. Como é quase impossível fechar as ideias, mesmo que estas sejam marcadas pelo cansaço, o excesso de uso no decorrer do tempo.
Repaginar, quiçá, seja um fácil conceito na sintetização de ideias lógicas, em ciências exatas. Mas a humanidade, o existir como fato, o recriar-se, é um gesto de libertação que machuca a pele (às vezes, até o osso) ao romper as correntes.
E a libertação, como toda forma de liberdade, é um movimento de sobrevivência ímpar e essencial. Para um sentir de doer, para um conhecer no mais profundo, para um relacionar-se no consigo. Ser liberto é poder viver, é condição de viver.
Não me pergunte, porém, porque tantas vezes nós preferimos sobreviver com as infindas reticências ou um sem-fim de interrogativas. Talvez essa negação ao recomeço seja a forma mais solitária de se manter na zona de conforto; de garantir que o respiro seguinte ocorrerá.
Mas esses são apenas alguns pontos.


CBO

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