domingo, 28 de abril de 2013

Por que os homens mentem?

Prólogo
Não sei ao certo sobre o que escrever.
Foi o título deste post que surgiu e me pediu que escrevesse. Assim como essas vontades súbitas de que algo necessita ser escrito - esse sentir de palavras que querem sair de dentro de mim, mas para as quais muitas vezes eu não dou ouvidos sequer.
Capítulo 1- uma resposta possível
Queria entender muito por qual (quais) motivo(s) os homens mentem. Mentem para mim, enquanto mulher, mentem para as outras, mentem para si. Qual a finalidade da mentira - que tão breve será descoberta - que não seja a constatação de que uma verdade, ali, não pode ser construída. Isto eu sinto, pois sou mulher e sofro com as  tais. Mas eles, homens, não pensam assim. Para eles, a mentira é um processo natural, sem simbologia, sem demarcar o que é pra valer e o que não tem futuro. A mentira funciona como uma marcação de território, independente deles permanecerem em tal campo por muito tempo. A mentira não é um fim, é apenas uma ferramenta de sobrevivência frente às relações que eles, homens, estabelecem conosco, mulheres.
Não há um contrato explícito que misture mentira e a tal  lealdade- que cobramos tanto em nossos relacionamentos. Você pode ser leal, mesmo que minta às vezes. Há uma lógica de não haver contato entre dois conceitos aparentemente tão afastados, para os homens. Talvez, penso, justamente por essa visão de mentira, para eles, ser tão dispare do que acreditamos ser.
Mas eu penso, daí, o que os homens pensam quando nós mentimos?
Capítulo 2 - um breve pensamento sobre as mulheres
Não posso ser bairrista em meus comentários. Afinal, nem ao certo sei sobre o que estou escrevendo. São palavras que escapam dessa prisão infame na qual as afundei durante a semana.
Mas, sobre as mulheres, talvez, por ser mulher, eu consiga expandir um pouco esse conceito de mentira. Não concordo com o que os homens pensam sobre "mentir" naturalmente. Entenda: não é um ato falho, é um ato corriqueiro. Mas nós, mulheres, nunca mentimos com naturalidade, creia-me.
Todos os pormenores de nossas mentiras são calculados, cronometrados, medidos e, quando há possibilidade, testados previamente. Somos afiadas no fazer bem; tipo traição. Não gostamos de fazer pela metade o que pode e deve ser bem feito. Não que isso signifique que nossas mentiras não são pegas, assim como ocorre com os homens. Pelo contrário: quando nossas mentiras se escancaram é pior - nossa arquitetura mentirônica é toda posta em face.
Por isso é muito mais fácil, válido e prático para um homem mentir. Eles mentem com a naturalidade que não transparece a mentira. Nós mentimos com um alicerce. Nossas mentiras podem até ser mais difíceis de estragar, mas são trabalhadas como movimentos de engenharia. Tal engenho, de planejar, executar e avaliar, se mede desde os motivos que geram a necessidade da mentira. Sim, como todo o elemento construído com planejamento, necessitamos de uma intencionalidade para que a necessidade se concretize.
Mulheres, uma rede de pescadores que pegaria uma sereia.
Mas o que ganhamos ao mentir? - é a pergunta que resta.
Capítulo 3 - afinal, quem é o mentiroso?
Não adianta nada eu ficar teclando coisas que todos já sabem, estórias que muitos conhecem, retextualizar o que se pode ler em qualquer site de relacionamentos. Não é essa a intenção - aliás, nenhuma é a intenção, já que o texto está sendo escrito - do modo mais literal que possamos entender essa frase. Mas o que eu queria falar, escrever, pensar, entender, é o motivo pelo qual mentimos tanto. Um ao outro; homens para mulheres; mulheres para homens - e, pior, para nós mesmos!
Por qual motivo nos enganamos quando está explícito o que nos compõe? Por que fingir que não ama se os olhos brilham quando se toca no nome da pessoa? Por que fingir que o sexo não é bom, quando seu rosto transluz isso na manhã seguinte? Por que fingir que não se importa se a pessoa ligará ou não, se você olha no telefone a cada dez minutos? Por que fingir, a si mesmo, que não tem o desejo de viver, mesmo que seja uma loucura, algum tipo de história-de-amor? Por que não chorar se a música toca fundo na sua alma? Por que não traduzir em palavras, se o sentir lateja? Por que sambar no coração dos  outros, quando seu maior desejo é tratá-lo com todos os cuidados que se pede a um recém-nascido? Por que despertar e alimentar em outrem os sentimentos que você não deseja corresponder? Por que pretender iludir  uma falsa relação, se há raízes outras? Por que manter o que nos faz mal, mesmo que estejamos cientes desse mal? Por que criar palavras para nossos ouvidos, se as bocas que deveriam dizê-las, não as dizem? Por que insistir em viver assim, mentindo, mesmo que se saiba que é tudo uma mentira?
Talvez esse desabafo de perguntas atrapalhadas seja o grande monstro que vinha me cutucando para a escrita nesses últimos dias. Talvez eu tenha algumas respostas para algumas perguntas. Talvez eu tenha mais perguntas para essas respostas. Talvez o fim de tudo seja uma eterna busca por um equilíbrio tolo - e manco -que a mentira parecesse construir. Um crer no que não há, como se a ilusão fosse mais forte e mais promissora do que esses fatos, nem sempre tão doces, que compõem nossas realidades.
Epílogo
Escrevi sem a chance de me entender, sem a capacidade de me dar respostas. Escrevi como se escreve, nos pensamentos, as milhões de interrogações que invadem nosso banho. Escrevi, por fim, porque necessitava externalizar essas dúvidas que me aplacam.
Há dias que são tão terrivelmente bonitos e gelados, como hoje. Dias em que eu ouço uma música para que a lágrima contida saia e, assim, eu possa respirar aliviada. Eu choro, muitas vezes,  para ter alívio. Para conseguir recuperar a crença em mim e em minhas formas de humanidade. Para (re)saber que um pouco de mim ainda existe e ainda se renova - apesar dos traços tão enferrujados que perpassam minha alma.
E deixo as minhas perguntas, como pegadas. Perguntas que moldam o ser que sou, que predizem o ser que serei - apesar da mudança das perguntas.
Talvez esse só seja um domingo tolo de nostalgia, talvez. Ou um momento de desconforto na mudança de paradigmas, uma carência na vontade de viver e não enxergar horizontes.
Todos esses motivos são plausíveis e instáveis; como eu. E, na instabilidade de ser, movo minhas palavras, jogadas, ao mar, como boa marinheira que sou.

C.B.O.


Nenhum comentário: