terça-feira, 6 de agosto de 2013

Pontes Alucinógenas

Todo dia eu sou ponte.
Cada vez mais sou uma estátua de pedra, com os braços estendidos.
Saber ser ponte é uma arte que me diminui.
Quero ser a água que escorre por seu entremeio,
Quero ser as mãos que moldam o gesso dos braços que se estendem ao longo da aléia.

Desejo a pulsão,
Não o repouso.

As pontes não caminham,
as estátuas não abraçam.
E eu preciso do calor.

Não escolhi ser pouso, nem morada,
Não escolhi ter rosas nascendo em mim.
Não houve escolhas, meu caro.
Me fizeram esse meio do caminho,
Essa passagem.
A necessária alucinação no caminho de quem passa e...
vai.

Ser ponte é realizar a união, mas não se unir.
É permitir o acesso, mas não acessar.
O caminho que facilita, mas sempre estará ali, na estrada, só,
Enquanto os demais transitam.

Estátua é aquela figura que simboliza
que justifica algo
ou alguém
ou um momento
ou um sentimento
ou um instante
que merece se petrificar no meio da jornada.
Ao ser estátua, de braços estendidos,
Posso ser outro mecanismo de passagem...
Para  flores, para jovens, para amores.

Nem estátua, nem ponte.
Sou a água que passa.
Quero alterar a natureza das formas,
O desencontro dos mares,
As inquietudes da vida.

Tanto quero, e são apenas vinte e seis anos.

[cbo]

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