terça-feira, 8 de abril de 2014

Contraponto de mim


Simultaneamente ao pensamento anterior, fico pensando no motivo pelo qual as pessoas escolhem a mim, dentre uma fila grande, para ser o escopo para passarem para o "lado de lá". É transparente o motivo. Meus 157 centímetros perto de um cara de 180 não serão desprezados nesse momento. Esses centímetros a menos fazem com que as pessoas vejam em mim um atalho melhor para cruzar a multidão.
Por muito tempo fiquei brava com isso. Tolices. Passei a pensar nesse meu papel de um modo figurativo mais bacana: não pela falta (dos centímetros, ó!!), mas pela grandeza que há em possibilitar ao outro um novo caminho.

Assim como um cara grandão será sempre o escolhido para a troca de lâmpadas. E deve pensar que oferece luz e novos olhares aos olhos amigos.

Cada um tem na vida seus diferentes papéis, aquilo no que será melhor.

Talvez um de meus papéis, além de ser baixar e facilitar o cruzamento dos caminhos, rs, seja o de ser a menina legal. Eu sempre me vejo mais atenciosa com o outro do que recebendo essa atenção. Eu sempre vou me preocupar se o fulano, ou sicrano, ou beltrana chegaram bem, caso eu saiba qual o destino deles. Sempre vou pensar no melhor jeito pra que todos fiquem bem. Sempre serei a "tia da limpeza", preocupada com o bem estar. Serei aquela que vai mandar uma mensagem perguntando se a pessoa está viva, mesmo que a pessoa esteja vivíssima e apenas se esqueceu de que eu, do lado de cá, esperava por notícias. Eu vou consolar quando alguém se for. Irei ser conselheira quando o namoro terminar. Vou naquele jantar, mesmo com a cabeça explodindo de dor, apenas porque todos irão. Sim, e alguns não irão porque perderam a hora. E esses não se importaram, porque a importância grande do bem-estar do outro não reside neles igual reside em mim. É muito difícil ser assim tãomente colocada como "a cris de ouro", quando o que eu mais tenho querido é que alguém se faça de ouro para mim também. Ao menos banhado, vai.

No ápice dos meus vinte e seis anos, o que eu mais quero neste momento é o cuidado. Eu sei me cuidar só, o que é  tão óbvio quanto meus 157 centímetros! mas quero alguém que se preocupe com esse cuidado também. Que me ajude a pensar no melhor modo de me pensar. Que me faça comer menos chocolate, ou menos gorduras trans. Que diga pra mim que eu sou bonita como sou e não preciso de um piercing no nariz, não preciso de uma tatuagem na bunda e menos ainda de pintar de ruivo meus cachos. Quero cuidado. Delicadeza de pensar no meu bem, assim como pensaria no seu bem próprio.

Um amigo que se virasse em 30 para me ver, não por um grande motivo, mas apenas porque precisamos rir juntos vez ou outra. Um amigo que não cancele comigo como se eu fosse a pessoa mais tolerante do mundo. Por amigos que não acreditem que eu vou aceitar qualquer malentendido e não será descaso. Não precisam eles ser tão precisos quanto eu sou. Não precisam me responder na hora, como eu, burramente, teimo em fazer. Não precisam aparecer, mesmo que a cabeça exploda. Mas que mostrem que se importem. Demonstrem. Cuidem de mim.

Ah, se eu não tivesse vinte e seis anos e não estivesse tão precisada de cuidados, talvez vivesse numa noite fulgaz, afastada desse mundo que não me pertence e não me deixa pertencer.

[CBO]

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