quarta-feira, 23 de abril de 2014

Doçuras



            Como são doces os sabores dos primeiros amores. Inundada por uma nostalgia mágica que ocorreu no reencontro com meu velho diário, me peguei relendo cartas e cartões de um dos meus primeiros namoradinhos. Que doce, quanto amor que eu deixei para trás. Naquela época eu não sabia viver o amor. Ou é o contrário? Naquela época eu me entreguei a um namoro que me fez muito bem por muito pouco tempo, tempo suficiente para que eu o abortasse. Eu sempre fazia isso. Havia uma paixão platônica que me segurava pelo calcanhar e não deixava que eu me arriscasse, pulando o penhasco. Mas era doce. Viver às margens de uma alegria saudável, resplandecente, de alguém que te quer bem e saber-se uma pessoa, então, memorável. Estou certa de que sou memorável a este meu querido namoradinho de outrora.

           Nestes últimos dias estive mastigando esta ideia de não ser memorável, apaixonável. Sinto que muitas vezes sou até apaixonante, cativante, simpática, mas não sou o tipo de pessoa “para a vida”. Sou passageira. Os homens que olham nos meus olhos não querem tocar minha alma. As amizades me tocam e se vão. Algumas voltam, outras, sempre voltam. Outras ainda, não voltam nunca mais.

           E fico aqui deste lado pensando em como guardo nomes, como guardo datas, como guardo sentimentos tão vários por pessoas que nem sequer devem lembrar a minha existência. Gostaria que um dia passasse na memória delas o meu rosto e surgisse a pergunta “O que será da Cris hoje em dia?”. Uma bela pergunta.

           Foi o que me perguntei ao reler as palavras de alguém que me amou um dia. Talvez ele nem soubesse também o que era o amor naquela época. Ou talvez o amor não fosse um jogo ainda, para nós, mas uma coisa doce que um dia acaba e ficamos tristes, mas diante da qual sempre sobrevivemos. Depois, o amor vai adquirindo novas formas com o tempo. Novas entregas, novos estratagemas, novas maneiras de demonstrar o que se sente – e não mais demonstrar também –, e de estar junto. Gostaria de um pouco da doçura de meus primeiros amores. De que alguma alma próxima me dissesse o quanto minha presença irradia luz entre os outros, ou de como sua vida mudou quando me conheceu. Não, não é egoísmo. Isso é um sentimento do mundo dos amores adultos. É uma sensação outra, capaz de fazer com que a vida, por alguns minutos, se torne, de fato, um conto de fadas.



[C.b.o. – 22/4/2014]

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