quarta-feira, 23 de abril de 2014

Aceita uma xícara de café?


          Quando abrimos nossa casa para as possibilidades, torna-se viável que, em algumas xícaras, caia uma dose maior de torrões de açúcar do que estávamos devidamente acostumados. Noutras, porém, amargo é o gosto da vida. O café é preciso ser feito com muito carinho, para que agrade nossas visitas. Entretanto, eu não sei fazer café. Logo, ainda não sei receber visitas do modo ideal. Como convidá-los para uma xícara de café e assumir que não domino ainda tal técnica? Será possível que uma relação de cumplicidade se estabeleça dentro dessa íntima confissão?
         Deixar o outro ciente de minha falha parece expor demais os elementos que me constituem e, para essa exposição, há de existir uma curadoria de força que assuma este produto chamado eu. Porém, a pergunta que ressalta é se, nesse meio, estarei pronta para que meu eu se revele totalmente entre as xícaras e os pires e os bules? No filtro que coa o café, haverá a força que torna o dia produtivo ou a fraqueza do chá que nos amolece as angústias?
        Aquele que aceitar tomar, comigo, uma xícara de café, por mim produzido, deve estar, de antemão, consciente de quem eu sou ou me descobrir?
         No primeiro gole ele me saberá. Meu café revela minhas doces amarguras? Meu gosto é exalado no ar que sobe das xícaras de minha casa.
         É preciso o tintilar de duas xícaras para que o café e toda a sua unidade quente e escura reúna duas vidas.
         Ao final, preciso, de fato, me permitir, deixar-me ser. Criar a coragem infinita de ser a cozinheira que fervilha a água e coa o café para as visitas. Preciso permitir adoçar cada xícara  com uma dose de minhas doçuras.
         Terei eu esse chapéu de chefe em uma futura cozinha?


         Eis meu café: Servido?


[C.B.O.]

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