terça-feira, 22 de abril de 2014

No meio de mim, no meio da ponte.








             O contato interior é um bem precioso e necessário, o único capaz de estabelecer em nós aquilo que nos guia e, ao mesmo tempo, gera os fantasmas que nos amaldiçoam. No contato interior direto se possibilita saber quais os caminhos que nos trilham, qual somos nós que construímos para trilhar. No caminho há tropeços, há pedras, como outrora nos avisara o poeta. Mas flores nascem na rua. Na caminhada, há o silêncio das mentes inquietas, mais o burburinho de multidões que passam por nós. Os tocar de ombros, as sacolas que se cruzam, as poças d’água em que afundamos nossos delírios. No meio do percurso, sufocamos as mágoas que nos apertam e despachamos ao léu as palavras que não possuímos força para expressar. Criamos diálogos clássicos ao longo do caminho, este seja, quiçá, o melhor palco para o teatro vivo de nossa vida, sempre escrava da realidade. Há caminhos longos, outros curtos, tortuosos ou em linha reta. Alguns são contínuos, já outros, sobem e descem. Uns só descem. Todos nos levam a algum ponto. Em todos os caminhos, nós caminhamos. A diferença é o papel que executamos na passagem.

            Meu nome é Ponte. Sigo um caminho interior de ponte, ligando vias que nunca se cruzariam. Para o exterior, sirvo eu como escolha ou como sorte, como quando há o destino certo e optam por me transpassar, como se minha existência fosse a passagem mais fácil para se unir ao caminho escolhido; ou como o encontro com algo extraordinário e inesperado que liga o passado a uma esperança vindoura indescritível e desconhecida. Prazer, sou ponte. O caminho que não anda. Sou aquela parte da via que, ainda que parada e estacada nos dois extremos, dá seguimento às vidas.



[C.B.O.]



“Não é impossível ser feliz quando a gente cresce, só é mais complicado.”

(As melhores coisas do mundo, filme, 2010).




ps. a impressão de que isto se torne algo...

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