sexta-feira, 6 de junho de 2014

Escravos de um(a) si(na)

Escrever para libertagem. Escrever a libertinagem. Escrevizagem. Escravagem.
Escrava de mim e de minhas tantas amarras de vida. Escrava de uma escrita que me acorrenta nesse modo de ser que não escolho, mas sou escolhida. Presa a tantos desalinhos, caminho na certeza de que as coisas boas virão. Sei que estão à bordo junto a meu novo navio. Um navio chamado vidaqueurge. Nos contrapassos das noites tempestuosas, deixo no caminho cair tudo aquilo que não me pertence mais, mesmo que a necessidade de que permanecesse no pertencimento se apresente no desconsolo de deixar traços na passagem. Viajo. Certa hora da noite, surge a lembrança de que o meu caminho é o desconsolo de um barco sem âncora. Não há prisões. Não há quem abrace meu barco para dizer que a tempestade, um dia, enfim, irá embora.
Sou eu quem vai.
Vou, mesmo que sempre fique. Engraçadas são as agonias da vida.... forneço passagem gratuita para um mundo que não é o meu. Basta que me toque, basta que me balance, basta que se aproxime demais de minha embarcação.
Minha passagem é, em geral, de ida apenas. Mas você volta.Vocês sempre voltam. Ao certo voltam por outros caminhos, novas pontes, novos atalhos de viver, novos embarques. Sou o triunfo de alguém que dá o ponta-pé certeiro. O pontapé que te manda ir viver a vida... longe de mim. O melhor pontapé. O pontapé de alguém que quer o outro bem, mesmo que fique sem nenhuma esperança.
Sou escrava de minhas agonias. Durmo e acordo na certeza de que o sorriso irradiante e avassalador que chega se vai com a mesma pressa de existir. A mesma ânsia, a mesma fúria, a mesma euforia.
Sobram-me os momentos e os olhares e os gestos que ficam quando a casa foi limpa, quando o lençol foi trocado, quando os cabelos embranquecem.
Um sorriso perdido no escuro.

Salve-se com um copo de vinho e um cigarro aceso na madrugada. E mais um "até logo".

[cbo]

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