segunda-feira, 9 de junho de 2014

Trágica.

Sentada no meu quarto, estou três tristes de mim. Ainda é segunda-feira, ainda há sol, ainda não é inverno, ainda há calor e frio na minha cama agora vazia.
Sentada, sou só.
Eu e uma máquina alvoroçada que me cobra tempo e tarefas, escritas e parágrafos. Cada dia digito mais e melhor e vejo surgir diante de mim algo que um dia chamarei de filho e, logo mais tarde, desejarei que desapareça.
Três tristes.
Fui dormir na sensação de vazio. Quis entrar embaixo do chuveiro para derramar lágrimas, mas, de tão vazia, nada saiu. Nada, a não ser uma memória quase apagada. Fiz as contas e logo já teremos muitos anos de conhecido e conhecida, amigo e amiga, e nada além de outros suspiros curtos e conversas estranhas.
Voltei para a cama agridoce. Encontrei lá um pedaço que não era eu, que não sei o que é, que me deixa confusa e aflita. Ao mesmo tempo em que me acalma e me suga as fibras e existir.
Em sua breve partida, deleitei-me de Clarice que aos murros me dizia como é difícil. Eu li em voz alta as coisas difíceis que ela me dizia quando ele voltou. Deitou-se e ficou fazendo parte melhor de mim, de meus interiores.
Quis não pensar, quis não pensar, quis não pensar: era tarde.
Estou sentada pensando e triste. Estou três vezes triste porque eu penso, porque eu não sei e porque eu o conheço. São três tristezas  sem métrica e sem rima.


...


Por coincidência engraçada dos viveres, apenas agora, ao fim da escrita, percebo que a noite terminará com a peça "Trágica(ponto)3". Nada na vida são coincidências, não é mesmo?

[cbo]

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