segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Meni-ninha

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Espairecer.
A essência do não-pensar consiste em dar espaço ao nulo, ao vazio, ao NÃO. Com a aparência plácida, lúcida, luminosa, a Menina traz, dentro de si, o redemuinho incontrolável, a explosão de todos os momentos, o cansaço e o desconforto de existir...
Desta vez ela não está chorando, apenas busca recolocar-se no lugar, na busca pelo lógico, pelo moldável, por um em-si pleno, e não mais tão retalhado.
Acalme-se, Menina.
Ela não mais dorme com antigamente, já não mais sente como antigamente: pouco sorri. A Menina quer resolver todos seus problemas, ao menos este, logo. A alma da Menina açoita-lhe, a garganta contrae, os olhos lacrimejam, o coração pulsa descompassadamente dentro de si.
Tudo passa na mente dela. O antes, o depois, o durante, o Agora. Junta os fatos como num quebra-cabeças: busca as falhas sem razão, contrói lógicas sem sentido, não me permite colocar nexo em minhas palavras. O que faz com meu ser, Menina, por que tanto me castiga ??
Me-ni-ninha.
Não fosse o excesso de ser que há em mim, daria um pouco meu tempo à ela; um pouco mais de consolo para suas horas, quem sabe...
Acalme-se, Menina, não chore ainda.
Nunca ela tanto assim penou nestes contextos, não por estes motivos. Agora, tão vulnerável, sofre com o exagero de seus mitos e suas mais profundas características do ser. Sofre por estar no ápice do seu EU e não dar mais conta de disfarçá-lo, escondê-lo. A mescla não lhe é opção.
Eis que duas mãos avançam-se ao seu encontro: uma mão morena, forte, intrigante; a outra é branca, delicada, especial. A primeira promete o calor, o brilho, o bom do proibido. A segunda promete a amizade acima de tudo, a sinceridade, o carinho morno, a ausência do que diz.
A Menina quer o colo do terceiro, do que não estende à ela sua mão, do que não ouve seus mudos clamores, do que não entende suas parcas palavras, do que não enxerga suas copiosas lágrimas, do que não busca unir-se com as pequetitas mãos da Menina. Ela quer o que não se entrega, o que não tem (ou tem
?) ... o que não A conhece, não a lê. Ela quer ele.
Por quê ele, Me-nina
?!
Pobres mãos, as outras duas, as que se perdem no espaço. Apenas um mínimo resvalar de dedos nos dedos da Menina. Mas ela não os reconhece, não os escolhe, não os quer. Vive na espera.
Talvez seja esse o motivo pelo qual cumula sofrimento, a Menininha. Não se comove com o simples, com o básico, com o fácil. Complica-se na sua teia de sobrevivência.
A Menina quer unir A e B no C, que não existe. A Menina, que gosta de plicas, complica-se...

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[c.b.o.]

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