segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

18/12

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No mesmo dia do tal encontro com meu amigo, e da minha coragem surgida do nada, fiquei sentada, a esperá-lo, perto de um grupo de jovens.
Quando cheguei havia apenas um garoto numa mesa com várias cadeiras em torno dele. Pedi-lhe licença e uma das cadeiras, para que eu pudesse sentar-me à mesa do lado e escrever minha coragem.
Estava dez minutos adiantada. Talvez meu amigo se atrassasse. Sentei, peguei uma caneta e meu caderno na bolsa, e comecei a escrever. O dia, com o horário de verão, ainda estava claro e poucas pessoas transitava por lá, no shopping.
Entretanto, em dez ou quinze minutos, o garoto solitário transformou-se num grupo de garotos eumas duas meninas, todos eles com menos de 15 anos. Várias pessoas começaram a passar e cumprimentá-los. O casal, de uma terceira mesa, encontrando quem esperavam, levantaram-se e deixaram-me ali, sozinha, com eles, os jovens.
Alguns homens me olharam; alguns de viés, outros insistentemente, mais dois jovens surpreenderam-me. Também eles teriam menos de 17 anos. Apesar de minha fama de "pedofila", não os encararia, nem por última opção. Mas os garotos passarame repassaram, e eu comecei a perceber que não era fruto da coincidência. Mas os dois não conheciam nenhum de meus "amigos-de-lado", e a dedução foi fácil: como antigamente rodeavam os bancos de praças, estes dois gaviões cerceavam ali alguma presa, e havia três opções: as duas meninas e eu.
Mas todas estas cenas foram ficando distantes quando o assunto do "do lado" entrou por meus ouvidos e começou a invadir meus pensamentos. Jovens?
Comecei a relembrar o que, com quem e como eu fazia as coisas na idad deles. E não sou velha. Suas conversas, no entanto, não me eram estranhas: eram crianças falando de coisas de adultos; falavam de pegação, briga, "baguio". BAGUIO! Sobre com faz menos mal usar maconha do que cigarro, ou, então, mediam o short de uma das meninas com a cueca samba-canção de um dos meninos. Exasperei.
Pensei em quantas coisas eles haviam perdido viveno numa geração tão precoce. Pensei na minha sobrinha assim, pequena, e em toda a pressão que a sociedade exerce sobre ela. Gostaria de tê-la nos braços e garantir que ela pode crescer à vontade, pois estarei lá pra garantir o fim de sua infância. Mas não dá.
Quanto aos gaviões; quando sai do meu recanto e ia "trombando" com eles, eles, nada sutilmente, deram meia-volta e não mais passaram pelas mesinhas..."


[CBO]

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